São Paulo, Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2000


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EFEITO CHATÔ
Mecenas pulverizam investimentos
Empresas reduzem verbas para filmes

da Reportagem Local

Grandes investidores no cinema nacional ficaram mais cautelosos depois da paralisação das filmagens de "Chatô".
"A credibilidade do setor caiu. Muitas empresas me disseram que só voltam a investir em cinema depois que "Chatô" acabar", conta Luiz Carlos Barreto, que já produziu mais de 70 filmes.
Uma dessas empresas é o Citibank, segundo a Folha apurou. O banco colocou R$ 2,6 milhões em "Chatô" e em outro projeto de Guilherme Fontes, "500 Anos de História". Decidiu voltar a investir em filmes só depois de ver uma cópia de "Chatô".
Volkswagen e Petrobras, que investiram em "Chatô", e Banespa, que não colocou dinheiro no filme, por exemplo, continuam acreditando no cinema nacional, mas estão menos generosos.
O Banespa, que já chegou a depositar R$ 2,4 milhões em "Memórias Póstumas", em 97, quando destinou R$ 14,5 milhões ao cinema, diluiu no ano passado um investimento total de R$ 3,9 milhões em 20 longas, uma média de menos de R$ 195 mil por obra.
"Buscamos todas as informações possíveis. Não é só o roteiro que tem de ser bom, analisamos também o diretor, o produtor. Alguma coisa tem de nos dar segurança", explica a analista de marketing Zilda Galliano, uma das responsáveis pelos investimentos culturais do Banespa.
A Petrobras chegou a negar uma suplementação pedida por Guilherme Fontes e criou uma comissão interna para avaliar os investimentos em cinema.
Volkswagen e Credicard, no entanto, continuaram investindo em "Chatô". A primeira deu mais R$ 500 mil, no ano passado. A Credicard, em dezembro, entregou mais R$ 150 mil a Guilherme Fontes -no total, investiu R$ 700 mil. "Seria irresponsável de nossa parte negar apoio, abalar a crença na Lei do Audiovisual", afirma Carla Schmitzberger, vice-presidente de marketing.
Vitor Moura Ferreira, diretor da corretora Sagres, que negocia certificados de audiovisual, acredita que a tendência é as empresas diluírem seus investimentos em vários filmes, investindo no máximo R$ 500 mil em cada obra.
"Não é o momento de gastar R$ 10 milhões num só filme. Projetos muito caros são difíceis de serem viabilizados. O investidor prefere projetos menores para ter retorno mais rápido", diz.

Cenário
Devido à queda na captação de recursos, o produtor Barreto visualiza um cenário de filme B para o cinema nacional neste ano. "A previsão era de que seriam feitos de 40 a 50 novos filmes. Dificilmente serão iniciados dez novos filmes. Das empresas que conheço, ninguém vai começar um projeto novo em 2000."
Barreto diz que "sentiu na pele" o "efeito Chatô". Conta que não conseguiu captar R$ 2,5 milhões para terminar "Bossa Nova", orçado em R$ 7,5 milhões e que estréia em abril . "Acabei fazendo empréstimo em banco."
Ugo Giorgetti, diretor de "Boleiros", esperava começar a rodar neste ano seu novo projeto "O Príncipe", que irá custar R$ 2 milhões. "Captei apenas 45% até agora. Está difícil", afirma.
(DANIEL CASTRO)


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