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CINEMA
Roterdã mistura gêneros
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha, em Roterdã
Alguns filmes neste 29º
Festival Internacional de Cinema de Roterdã subvertem
uma base documental para
criar intervenções ficcionais. Os limites entre os gêneros são abolidos em claves paródicas, ensaísticas e
históricas.
Em "Piranha Blues: Film
1" (Bélgica), o pai do diretor
(e ex-advogado) Willem
Wallijn é preso no escândalo
político Agusta-Dassault e o
filho se torna porta-voz junto à imprensa. Ele tenta analisar a situação deste ponto
de vista, mas a realidade foge de suas mãos. O filme está
longe de ser uma reportagem sobre o caso dos votos
roubados, pois os personagens de ficção se intrometem na história supostamente documental. Assim, a
investigação assume outros
rumos e alvos.
"L + R", de Edgar Honetschläger (Áustria) é um
ensaio audiovisual sobre os
(des)entendimentos entre
japoneses e ocidentais, fazendo um combinado entre
ações encenadas, registros
espontâneos e materiais de
arquivo. Uma jovem japonesa é escalada para ser escada nas digressões, anedotas e enumerações narrativas, mas ela resiste ao olhar
"impositivo" do diretor e
desvia o foco predeterminado, evitando o documentário linear. As letras do título
aludem à troca comum na
pronúncia japonesa. A japonesa resume a querela quando reclama que os europeus
estão sempre precisando de
explicações.
"La Genèse", de Cheick
Oumar Sissoko (Mali), parte
da premissa de alguns biólogos evolucionistas que sugerem uma proposição (metafórica) da existência de
Adão e Eva negros e continua: por que não o seria
também o patriarca Jacó?
Esse é o primeiro filme feito
na África baseado e transplantado no Antigo Testamento ("Gênesis", 23-27) e
afigura-se como um épico
que cruza religiões monoteístas e sistemas tribais, numa peça em dupla vertente:
mítica e antropológica.
Em "Enzo, Domai a Palermo!", os implacáveis e corrosivos Daniele Ciprì e
Franco Maresco seguem (e
perseguem, com ironia demolidora) a figura de Enzo
Castagna, carismático mafioso e agente cinematográfico, numa pseudoreportagem que documenta e desconstrói a tênue fronteira
entre realidade e ficção. A irreverência resulta ainda do
contexto siciliano, pródigo
na mixórdia entre a subindústria do entretenimento, a
máfia e cinema.
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