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TEMPORADA DE OUTONO-INVERNO
Ronaldo Fraga vira cult com folk judaico
Associated Press
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O início do desfile de Ronaldo Fraga |
Zoomp explora materiais e exercita proporções com seu sexy mix dos anos 80
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
O segundo dia da São Paulo
Fashion Week teve uma estrela e três exercícios estilísticos
sobre as novas tecnologias têxteis.
Assim, o mineiro Ronaldo Fraga,
estreante no calendário oficial da
moda brasileira, brilhou entre os
gigantes Zoomp e Iódice e sobre a
conterrânea Patachou. Os desfiles
de lançamento da moda outono-inverno acontecem até segunda-feira no prédio da Fundação Bienal (zona sudoeste de São Paulo),
somente para convidados.
Com o decorrer do dia, Fraga se
tornou espécie de cult entre os
profissionais da moda. Mesmo
sendo o primeiro a desfilar, conseguiu levar todos os editores importantes, interessados pela veia
irônica e inteligente com que Fraga sempre trabalhou sua moda.
Com um desfile sem pretensões,
mas correto, o estilista usou um
fictício romance entre dois jovens
judeus para passear nas décadas
de 30, 40 e 50. Criou um ambiente
folk atemporal, entretanto, com
uma história coerente e poética,
romântica e trágica -vide as
pungentes estampas de tiros nas
roupas em puro algodão branco.
Felizmente, Fraga se livrou das
críticas forçadas ao universo fashion, trabalhando com sutileza e
conhecimento do vocabulário da
moda, em roupas bem acabadas e
usáveis fora do contexto judaico
proposto na passarela.
Mesmo lembrando a austeridade daqueles tempos, as mulheres
de Fraga desfilam -como também as judias- sua sensualidade
habitual, subliminar, em comprimentos mídi como nos vestidos
retos do início, seguidos dos excepcionais trajes em linho preto,
com sobreposição e drapeados.
No masculino, igualmente um
casting irrepreensível, paletós retos e calças mais curtas, soltas, em
que a mistura de estampas e texturas cria looks contemporâneos
e elaborados, mesmo dentro da
simplicidade. Ao final, a platéia se
divertiu acompanhando com palmas a "Hava Naguila" que encerrou a trilha em iídiche, com músicas das Barry Sisters.
A Zoomp desdobrou vontades
de moda diversificadas em sua
coleção, explorando materiais diferenciados como o jeans anarruga que abriu o desfile em Caroline
Ribeiro ou na jaqueta tecno esportiva. O estilo era uma disco girl
anos 70 e 80, com cabelo à la Irene
Ravache, com olhos reforçados.
Em casa nas referências à década de 80, o estilista Alexandre
Herchcovitch, que desenha o feminino da grife, transforma as
calças em peça de resistência da
coleção. Elas vêm justíssimas ou
no delicioso formato training, repuxada com elástico embaixo e
no cós, mas em tratamento chic.
Dá para notar que a mulher
Zoomp deu uma amadurecida
(envelhecida?) e caminha para
uma linha elegante, quase formal,
nos tweeds e nas proporções estruturadas, evolução do verão
Zoomp. Hits: o mantô/vestido em
verde militar, o abusado legging
cinza de Katia Regina, a calça bufante de seda preta; os looks em
renda tecno e finalmente o vestido sem manga e babados na diagonal na renda azul de Jeísa.
Tem muita roupa na Zoomp, a
coleção de uma marca com tantas
necessidades (só o jeans e o masculino, meio country, seriam outros desfiles).
O que não rolou: o cabelo, que
foi despencando e enfeiando as
meninas, e o sapato meio Fendi
de ontem.
Avaliação:
Ronaldo Fraga -
Zoomp -
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