São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2001

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TEMPORADA DE OUTONO-INVERNO

Ronaldo Fraga vira cult com folk judaico
Associated Press
O início do desfile de Ronaldo Fraga

Zoomp explora materiais e exercita proporções com seu sexy mix dos anos 80

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

O segundo dia da São Paulo Fashion Week teve uma estrela e três exercícios estilísticos sobre as novas tecnologias têxteis. Assim, o mineiro Ronaldo Fraga, estreante no calendário oficial da moda brasileira, brilhou entre os gigantes Zoomp e Iódice e sobre a conterrânea Patachou. Os desfiles de lançamento da moda outono-inverno acontecem até segunda-feira no prédio da Fundação Bienal (zona sudoeste de São Paulo), somente para convidados.
Com o decorrer do dia, Fraga se tornou espécie de cult entre os profissionais da moda. Mesmo sendo o primeiro a desfilar, conseguiu levar todos os editores importantes, interessados pela veia irônica e inteligente com que Fraga sempre trabalhou sua moda.
Com um desfile sem pretensões, mas correto, o estilista usou um fictício romance entre dois jovens judeus para passear nas décadas de 30, 40 e 50. Criou um ambiente folk atemporal, entretanto, com uma história coerente e poética, romântica e trágica -vide as pungentes estampas de tiros nas roupas em puro algodão branco.
Felizmente, Fraga se livrou das críticas forçadas ao universo fashion, trabalhando com sutileza e conhecimento do vocabulário da moda, em roupas bem acabadas e usáveis fora do contexto judaico proposto na passarela.
Mesmo lembrando a austeridade daqueles tempos, as mulheres de Fraga desfilam -como também as judias- sua sensualidade habitual, subliminar, em comprimentos mídi como nos vestidos retos do início, seguidos dos excepcionais trajes em linho preto, com sobreposição e drapeados.
No masculino, igualmente um casting irrepreensível, paletós retos e calças mais curtas, soltas, em que a mistura de estampas e texturas cria looks contemporâneos e elaborados, mesmo dentro da simplicidade. Ao final, a platéia se divertiu acompanhando com palmas a "Hava Naguila" que encerrou a trilha em iídiche, com músicas das Barry Sisters.
A Zoomp desdobrou vontades de moda diversificadas em sua coleção, explorando materiais diferenciados como o jeans anarruga que abriu o desfile em Caroline Ribeiro ou na jaqueta tecno esportiva. O estilo era uma disco girl anos 70 e 80, com cabelo à la Irene Ravache, com olhos reforçados.
Em casa nas referências à década de 80, o estilista Alexandre Herchcovitch, que desenha o feminino da grife, transforma as calças em peça de resistência da coleção. Elas vêm justíssimas ou no delicioso formato training, repuxada com elástico embaixo e no cós, mas em tratamento chic.
Dá para notar que a mulher Zoomp deu uma amadurecida (envelhecida?) e caminha para uma linha elegante, quase formal, nos tweeds e nas proporções estruturadas, evolução do verão Zoomp. Hits: o mantô/vestido em verde militar, o abusado legging cinza de Katia Regina, a calça bufante de seda preta; os looks em renda tecno e finalmente o vestido sem manga e babados na diagonal na renda azul de Jeísa.
Tem muita roupa na Zoomp, a coleção de uma marca com tantas necessidades (só o jeans e o masculino, meio country, seriam outros desfiles).
O que não rolou: o cabelo, que foi despencando e enfeiando as meninas, e o sapato meio Fendi de ontem.


Avaliação:
Ronaldo Fraga -     

Zoomp -    


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