São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005

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Robert Mapplethorpe Foundation
"Lisa Lyon", 1981, do americano Robert Mapplethorpe, foto que será exibida no Brasil


VER para crer

Vik Muniz coordena releitura da obra do fotógrafo Mapplethorpe no Brasil

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

O puritanismo norte-americano jogou a obra do fotógrafo Robert Mapplethorpe (1946-1989) na fogueira. Em 1989, meses após a morte do artista, o senador republicano de extrema direita Jesse Helms fez campanha contra e conseguiu suspender sua exposição na galeria Corcoran, em Washington. A partir do incidente, a obra de Mapplethorpe ganharia destaque pela controvérsia.
Nova York, começo dos anos 70: Mapplethorpe começa a fotografar os amigos, como a cantora e poeta Patti Smith, e a si próprio. Durante quase duas décadas de produção, ele transita em diversos campos, das imagens homoeróticas e de sadomasoquistas em ação, que chocaram a América casta, a singelos registros de paisagens e retratos de celebridades.
Sem o alarde dos puritanos, Mapplethorpe volta a ser exibido. A fundação que leva o seu nome e arrecada fundos para a fotografia e para financiar pesquisas sobre Aids (doença que matou o fotógrafo) convidou artistas para realizarem curadorias de mostras pelo mundo. Catherine Opie realiza a sua em Los Angeles, Cindy Sherman fez em Nova York, e David Hockney, em Londres.
No Brasil, a obra de Mapplethorpe ganha releitura de Vik Muniz, o artista brasileiro de maior expressão internacional do momento. Ele assina a seleção com 50 trabalhos do fotógrafo apresentados na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, em março.
No mesmo mês, Muniz inaugura, na sede paulistana do Centro Cultural Banco do Brasil, a exposição da série "Diamonds Divas and Caviar Monsters" (divas de diamante e monstros de caviar).
É exatamente o que diz o título: múmia e Frankenstein desenhados com as bolinhas pretas do beluga (a caríssima iguaria iraniana) e os contornos de Brigitte Bardot e Marilyn Monroe feitos com quase meio quilo de diamantes.
Um preciosismo semelhante aos dos retratos de Muniz pode ser visto nas obras de Mapplethorpe, embora o brasileiro não veja uma influência direta do norte-americano em seu trabalho.
"Ele era influenciado pela arte da época. A sexualidade e a sensualidade moviam o trabalho dele, mas isso era só uma faceta", diz Muniz. "A obra de Mapplethorpe sempre foi vista de forma limitada, como algo sensualizado e pornográfico. A idéia é dinamizar essa leitura. Tentei mostrar o trabalho dele que é completamente desconhecido do público. Como, nos anos 70, o minimalismo aparece no rigor formal de seus trabalhos."
Um dos exemplos é a singular composição do retrato de Philip Glass e Robert Wilson, de 1976, que estará na exibição brasileira. Sentados lado a lado, o músico e o teatrólogo conflitam a simetria do ambiente e a contraposição de suas aparências. Retratos de Louise Bourgois, Alice Neel, Andy Warhol, Sonia Braga e Iggy Pop também estarão na mostra.
O brasileiro conheceu Mapplethorpe no começo dos anos 80. "Sou amigo do irmão dele e trabalhei com um de seus assistentes. Ele era uma pessoa muito especial. Tive um contato pequeno, depois ele ficou doente e recluso."
Muniz se lembra da última vez em que viu o fotógrafo, numa vernissage no DIA Art Foundation. "Ele estava muito magro, andando com uma bengala com uma caveira na ponta." A imagem está imortalizada num sombrio auto-retrato que integrará a mostra.

Mercado
Antes de ser polêmico, Mapplethorpe ajudou a abrir caminho para a fotografia no mercado da arte. "Ele foi um dos primeiros a vender foto a preço de pintura, US$ 10 mil, US$ 15 mil [R$ 26 mil e R$ 39 mil], quando a tendência estava começando a acontecer", destaca o brasileiro.
Na mostra, as obras do americano custarão de US$ 7.500 a US$ 20 mil (R$ 19,5 mil a R$ 52 mil) para fotos com tiragens que variam de cinco a 15 cópias.
"Com ele e outros dessa geração, percebi que a fotografia poderia ser levada mais a sério e comecei a me ver mais como fotógrafo", conta Muniz, cujas obras custam hoje entre US$ 8.000 e US$ 25 mil (R$ 20,8 mil e R$ 65 mil), com edições de no mínimo três e no máximo dez cópias.


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