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Robert Mapplethorpe Foundation
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"Lisa Lyon", 1981, do americano
Robert Mapplethorpe, foto que será exibida no Brasil |
VER para crer
Vik Muniz coordena releitura da obra do fotógrafo Mapplethorpe no Brasil
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
O puritanismo norte-americano jogou a obra do fotógrafo Robert Mapplethorpe (1946-1989)
na fogueira. Em 1989, meses após
a morte do artista, o senador republicano de extrema direita Jesse
Helms fez campanha contra e
conseguiu suspender sua exposição na galeria Corcoran, em Washington. A partir do incidente, a
obra de Mapplethorpe ganharia
destaque pela controvérsia.
Nova York, começo dos anos
70: Mapplethorpe começa a fotografar os amigos, como a cantora
e poeta Patti Smith, e a si próprio.
Durante quase duas décadas de
produção, ele transita em diversos campos, das imagens homoeróticas e de sadomasoquistas em
ação, que chocaram a América
casta, a singelos registros de paisagens e retratos de celebridades.
Sem o alarde dos puritanos,
Mapplethorpe volta a ser exibido.
A fundação que leva o seu nome e
arrecada fundos para a fotografia
e para financiar pesquisas sobre
Aids (doença que matou o fotógrafo) convidou artistas para realizarem curadorias de mostras pelo mundo. Catherine Opie realiza
a sua em Los Angeles, Cindy Sherman fez em Nova York, e David
Hockney, em Londres.
No Brasil, a obra de Mapplethorpe ganha releitura de Vik
Muniz, o artista brasileiro de
maior expressão internacional do
momento. Ele assina a seleção
com 50 trabalhos do fotógrafo
apresentados na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, em março.
No mesmo mês, Muniz inaugura, na sede paulistana do Centro
Cultural Banco do Brasil, a exposição da série "Diamonds Divas
and Caviar Monsters" (divas de
diamante e monstros de caviar).
É exatamente o que diz o título:
múmia e Frankenstein desenhados com as bolinhas pretas do beluga (a caríssima iguaria iraniana)
e os contornos de Brigitte Bardot
e Marilyn Monroe feitos com
quase meio quilo de diamantes.
Um preciosismo semelhante
aos dos retratos de Muniz pode
ser visto nas obras de Mapplethorpe, embora o brasileiro não
veja uma influência direta do norte-americano em seu trabalho.
"Ele era influenciado pela arte
da época. A sexualidade e a sensualidade moviam o trabalho dele, mas isso era só uma faceta", diz
Muniz. "A obra de Mapplethorpe
sempre foi vista de forma limitada, como algo sensualizado e pornográfico. A idéia é dinamizar essa leitura. Tentei mostrar o trabalho dele que é completamente
desconhecido do público. Como,
nos anos 70, o minimalismo aparece no rigor formal de seus trabalhos."
Um dos exemplos é a singular
composição do retrato de Philip
Glass e Robert Wilson, de 1976,
que estará na exibição brasileira.
Sentados lado a lado, o músico e o
teatrólogo conflitam a simetria do
ambiente e a contraposição de
suas aparências. Retratos de Louise Bourgois, Alice Neel, Andy
Warhol, Sonia Braga e Iggy Pop
também estarão na mostra.
O brasileiro conheceu Mapplethorpe no começo dos anos 80.
"Sou amigo do irmão dele e trabalhei com um de seus assistentes.
Ele era uma pessoa muito especial. Tive um contato pequeno,
depois ele ficou doente e recluso."
Muniz se lembra da última vez
em que viu o fotógrafo, numa vernissage no DIA Art Foundation.
"Ele estava muito magro, andando com uma bengala com uma
caveira na ponta." A imagem está
imortalizada num sombrio auto-retrato que integrará a mostra.
Mercado
Antes de ser polêmico, Mapplethorpe ajudou a abrir caminho
para a fotografia no mercado da
arte. "Ele foi um dos primeiros a
vender foto a preço de pintura,
US$ 10 mil, US$ 15 mil [R$ 26 mil
e R$ 39 mil], quando a tendência
estava começando a acontecer",
destaca o brasileiro.
Na mostra, as obras do americano custarão de US$ 7.500 a US$ 20
mil (R$ 19,5 mil a R$ 52 mil) para
fotos com tiragens que variam de
cinco a 15 cópias.
"Com ele e outros dessa geração, percebi que a fotografia poderia ser levada mais a sério e comecei a me ver mais como fotógrafo", conta Muniz, cujas obras
custam hoje entre US$ 8.000 e
US$ 25 mil (R$ 20,8 mil e R$ 65
mil), com edições de no mínimo
três e no máximo dez cópias.
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