São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005

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ERUDITO

Cohen executa leitura amadurecida e sóbria de sonata de Liszt

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Arnaldo Cohen sempre falou mal dos discos, mas agora finalmente tem aquilo que se chama de carreira fonográfica. Acaba de chegar ao mercado brasileiro "Liszt - Sonata in B Minor", lançado no mercado internacional pela etiqueta sueca BIS em agosto do ano passado.
A "Sonata em Si Menor", de Franz Liszt (1811-1886), foi uma das obras do primeiro CD de Arnaldo Cohen, lançado pela Imp Classics em 1991. Desde então, o pianista tem dado entrevistas chamando gravações de mentiras, e lançou, nos anos 90, dois discos elogiados pela crítica: um recital Liszt pela Naxos, em 96, e um com obras de Brahms e Schumann pela Vox, em 97.
A virada definitiva parece ter acontecido em 2001, quando, inaugurando sua relação com o selo escandinavo, Cohen contemplou o repertório nacional em "Brasiliana - Three Centuries of Brazilian Music".
A mesma gravadora, agora, lhe dá a chance de acertar as contas com o passado e fazer uma nova leitura da sonata de Liszt, um monumento pianístico de 760 compassos que elimina a divisão tradicional em movimentos, sintetizando em um único bloco, como assinalou Piero Rattalino, as formas da sonata clássica, do allegro de sonata e da canção.
Consta que Brahms dormiu ao ouvir a sonata pela primeira vez; mais conhecido e conservador crítico da época, Eduard Hanslick chamou-a de "máquina de vapor da genialidade vazia", qualificando-a de "quase impossível de interpretar". Liszt foi um dos maiores pianistas da história, e as demandas da partitura são realmente elevadas não apenas no aspecto técnico, mas também no físico -além de compreender intelectualmente a estrutura da obra, o intérprete tem que ter mãos grandes para alcançar seus acordes e capacidade muscular para entregar a sonoridade generosa requerida pela obra.
Arnaldo Cohen mostra uma leitura amadurecida e sóbria da sonata, seguindo bem de perto o texto de Liszt (que, contudo, deixa bastante liberdade ao executante em quesitos como os pedais), com cuidado no fraseado e no tratamento da dinâmica, e buscando transmitir também a poesia dos momentos mais cantáveis da obra.
Além de estudar piano, Cohen formou-se também em violino, fato que vem à lembrança ao ouvir outra faixa do disco, "La Vallée d'Obermann", cujo final evoca, no piano, o efeito do vibrato em um instrumento de cordas.
Outras duas criações lisztianas completam o CD, exigindo uma paleta especial de cores: a "Rhapsodie Espagnole" e "Funérailles" -esta última, tocada com um primor de inteligência e rigor estrutural.
Cohen sempre disse que o problema com as gravações é que a gente nunca sabe se o pianista vai poder reproduzir ao vivo aquilo que fez em estúdio. No caso dele, a chance de o público brasileiro "cobrar" em concerto a excelência da performance do disco vai chegar em julho, quando ele toca em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro (com a Orquestra Petrobras Pró Música) e em São Paulo. Como a BIS também é a gravadora da Osesp, pianista e orquestra registram os dois concertos para piano e orquestra, de Liszt, tocando ainda as obras na Sala São Paulo e encerrando o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.


Liszt - Sonata in B Minor
    
Artista: Arnaldo Cohen (piano)
Gravadora: BIS Records
Quanto: R$ 59


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