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ERUDITO
Cohen executa leitura amadurecida e sóbria de sonata de Liszt
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Arnaldo Cohen sempre falou mal dos discos, mas agora finalmente tem aquilo que se
chama de carreira fonográfica.
Acaba de chegar ao mercado brasileiro "Liszt - Sonata in B Minor",
lançado no mercado internacional pela etiqueta sueca BIS em
agosto do ano passado.
A "Sonata em Si Menor", de
Franz Liszt (1811-1886), foi uma
das obras do primeiro CD de Arnaldo Cohen, lançado pela Imp
Classics em 1991. Desde então, o
pianista tem dado entrevistas
chamando gravações de mentiras, e lançou, nos anos 90, dois
discos elogiados pela crítica: um
recital Liszt pela Naxos, em 96, e
um com obras de Brahms e Schumann pela Vox, em 97.
A virada definitiva parece ter
acontecido em 2001, quando,
inaugurando sua relação com o
selo escandinavo, Cohen contemplou o repertório nacional em
"Brasiliana - Three Centuries of
Brazilian Music".
A mesma gravadora, agora, lhe
dá a chance de acertar as contas
com o passado e fazer uma nova
leitura da sonata de Liszt, um monumento pianístico de 760 compassos que elimina a divisão tradicional em movimentos, sintetizando em um único bloco, como
assinalou Piero Rattalino, as formas da sonata clássica, do allegro
de sonata e da canção.
Consta que Brahms dormiu ao
ouvir a sonata pela primeira vez;
mais conhecido e conservador
crítico da época, Eduard Hanslick
chamou-a de "máquina de vapor
da genialidade vazia", qualificando-a de "quase impossível de interpretar". Liszt foi um dos maiores pianistas da história, e as demandas da partitura são realmente elevadas não apenas no aspecto
técnico, mas também no físico
-além de compreender intelectualmente a estrutura da obra, o
intérprete tem que ter mãos grandes para alcançar seus acordes e
capacidade muscular para entregar a sonoridade generosa requerida pela obra.
Arnaldo Cohen mostra uma leitura amadurecida e sóbria da sonata, seguindo bem de perto o
texto de Liszt (que, contudo, deixa bastante liberdade ao executante em quesitos como os pedais), com cuidado no fraseado e
no tratamento da dinâmica, e
buscando transmitir também a
poesia dos momentos mais cantáveis da obra.
Além de estudar piano, Cohen
formou-se também em violino,
fato que vem à lembrança ao ouvir outra faixa do disco, "La Vallée
d'Obermann", cujo final evoca,
no piano, o efeito do vibrato em
um instrumento de cordas.
Outras duas criações lisztianas
completam o CD, exigindo uma
paleta especial de cores: a "Rhapsodie Espagnole" e "Funérailles"
-esta última, tocada com um
primor de inteligência e rigor estrutural.
Cohen sempre disse que o problema com as gravações é que a
gente nunca sabe se o pianista vai
poder reproduzir ao vivo aquilo
que fez em estúdio. No caso dele, a
chance de o público brasileiro
"cobrar" em concerto a excelência da performance do disco vai
chegar em julho, quando ele toca
em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro (com a Orquestra Petrobras
Pró Música) e em São Paulo. Como a BIS também é a gravadora
da Osesp, pianista e orquestra registram os dois concertos para
piano e orquestra, de Liszt, tocando ainda as obras na Sala São Paulo e encerrando o Festival Internacional de Inverno de Campos
do Jordão.
Liszt - Sonata in B Minor
Artista: Arnaldo Cohen (piano)
Gravadora: BIS Records
Quanto: R$ 59
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