São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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"EDISON - PODER E CORRUPÇÃO"

Thriller discute ética e jornalismo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O medo de desafiar os padrões considerados certos para atração de público no mercado americano tem levado ao fracasso bons projetos de filme nos EUA. A obsessão por seguir a fórmula em que não podem faltar violência explícita, perseguições frenéticas e algumas cenas de casal na cama empobrece diálogos e idéias até interessantes, que se tornam ilhas em meio a cenas que visam agradar os espectadores.
É o caso de "Edison - Poder e Corrupção", primeira produção para cinema do diretor David Burke, que peca ainda pelos cacoetes da linguagem das séries de TV repetidos na tela grande com efeitos estéticos discutíveis.
Quem atravessar os tiroteios e espancamentos absolutamente gratuitos (desde as primeiras cenas), com direito a esguichos de sangue, vai se defrontar com algumas situações sobre as quais vale a pena refletir. Especialmente quem se interessa por jornalismo.
Edison é o nome de uma cidade onde policiais desonestos se associam com políticos e montam um grande esquema de corrupção. Um jovem repórter do jornal comunitário local (Justin Timberlake) resolve investigar o esquema para impressionar a namorada e o patrão (Morgan Freeman).
O personagem vivido por Freeman é inspirado pelo repórter fotográfico Eddie Adams, que se celebrizou pela foto que mostra um militar sul-vietnamita matando um guerrilheiro vietcongue com um tiro na cabeça numa rua de Saigon em 1968. É um velho jornalista que o tempo e as desilusões tornaram cínico, mas que vê o idealismo da juventude renascer com o entusiasmo de seu foca.
Para ajudá-lo, coloca-o em contato com um promotor público (Kevin Spacey), seu antigo conhecido, única pessoa honesta no circuito do poder em Edison.
O trio, mais um policial do grupo da corrupção que se rebela por amor à noiva, enfrentam a máfia da cidade (mais tiros, torturas e sangue em abundância) e evidentemente sai vencedor. No meio do caminho, muitas dúvidas sobre a dicotomia entre justiça e legalidade, o papel da imprensa diante do sistema legal, quais informações revelar e quando.
"No jornalismo, assim como na justiça, às vezes as perguntas mais relevantes são as que se escolhe não fazer": esta é a moral discutível do filme, que seria muito melhor se não apelasse tanto para a violência.
Como, por exemplo, fez Joel Schumacher em "O Custo da Coragem", que relata a história verdadeira de Veronica Guerin, a jornalista irlandesa que investigou e denunciou o tráfico de drogas em Dublin na década de 1990. Shumacher discute temas muito parecidos com os de "Edison", com violência menos escandalosa e resultados dramáticos muito superiores.


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas

Edison - Poder e Corrupção
Edison
  
Produção: EUA, 2005
Direção: David J. Burke
Com: Kevin Spacey, Morgan Freeman
Quando: a partir de hoje nos cines Interlagos, Gemini e circuito


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