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Crítica/"Juventude"
Filme de 1951 anuncia arte plena de Ingmar Bergman
Cineasta sueco usa closes e silêncio para contar história de amor adolescente
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Juventude" (1951),
considerado por
Jean-Luc Godard "o
filme mais bonito de Bergman", antecede e, de certo modo, prenuncia as obras-primas
que o cineasta sueco faria ao
longo dos anos 50: "Mônica e o
Desejo", "Noites de Circo", "O
Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres".
O entrecho poderia ser o de
um melodrama romântico: às
vésperas da estréia de um grande espetáculo, a bailarina clássica Marie (a extraordinária
Maj-Britt Nilsson) recebe num
envelope o diário do rapaz que
foi seu primeiro namorado e
que morreu num acidente
quando o amor entre os dois estava em botão, na adolescência.
A partir daí, abre-se um longo flashback para mostrar o verão em que os jovens se conheceram, numa ilha do arquipélago de Estocolmo, e começaram
a se amar. Foi no mesmo verão
que o rapaz, Henrik (Birger
Malmsten), sofreu o acidente.
Amor intenso e fugaz, como a
própria juventude, justificando
o título original sueco, "Sommarlek", que seria algo como
"jogo de verão" ou "divertimento de verão".
A esse tema da fugacidade da
vida, do caráter frágil e inefável
da felicidade (um verão e nada
mais) somam-se aqui outros temas caros a Bergman: o silêncio
de Deus, evidente na cena do
acidente fatal, quando a câmera
sobe e contempla um céu opaco, a busca de um sentido para a
existência, a emergência ocasional de epifanias de paz e
aceitação.
A polarização um tanto fácil
entre a pureza da juventude e a
corrupção da vida adulta -simbolizada no tio Erland (Georg
Funkquist), ex-amante da mãe
de Marie e presença nefasta na
vida da moça- é amenizada no
belíssimo desfecho, mas seria
muito melhor trabalhada na
obra posterior do diretor.
Mas não é só nos temas que a
arte plena de Bergman se anuncia em "Juventude". Os closes
incomparáveis, o uso expressivo do silêncio, o recurso freqüente aos espelhos, o controle
absoluto de uma luz levemente
expressionista -está tudo ali.
Irregular, tateante, ainda em
busca da afirmação de um estilo, "Juventude" é uma espécie
de Bergman em estado bruto,
pleno de talento e frescor. Não
é todo dia que temos oportunidade de presenciar a alvorada
de um gênio.
JUVENTUDE
Direção: Ingmar Bergman
Distribuição: Versátil (R$ 42,90, em
média)
Avaliação: ótimo
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