São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Juventude"

Filme de 1951 anuncia arte plena de Ingmar Bergman

Cineasta sueco usa closes e silêncio para contar história de amor adolescente

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Juventude" (1951), considerado por Jean-Luc Godard "o filme mais bonito de Bergman", antecede e, de certo modo, prenuncia as obras-primas que o cineasta sueco faria ao longo dos anos 50: "Mônica e o Desejo", "Noites de Circo", "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres".
O entrecho poderia ser o de um melodrama romântico: às vésperas da estréia de um grande espetáculo, a bailarina clássica Marie (a extraordinária Maj-Britt Nilsson) recebe num envelope o diário do rapaz que foi seu primeiro namorado e que morreu num acidente quando o amor entre os dois estava em botão, na adolescência.
A partir daí, abre-se um longo flashback para mostrar o verão em que os jovens se conheceram, numa ilha do arquipélago de Estocolmo, e começaram a se amar. Foi no mesmo verão que o rapaz, Henrik (Birger Malmsten), sofreu o acidente.
Amor intenso e fugaz, como a própria juventude, justificando o título original sueco, "Sommarlek", que seria algo como "jogo de verão" ou "divertimento de verão".
A esse tema da fugacidade da vida, do caráter frágil e inefável da felicidade (um verão e nada mais) somam-se aqui outros temas caros a Bergman: o silêncio de Deus, evidente na cena do acidente fatal, quando a câmera sobe e contempla um céu opaco, a busca de um sentido para a existência, a emergência ocasional de epifanias de paz e aceitação.
A polarização um tanto fácil entre a pureza da juventude e a corrupção da vida adulta -simbolizada no tio Erland (Georg Funkquist), ex-amante da mãe de Marie e presença nefasta na vida da moça- é amenizada no belíssimo desfecho, mas seria muito melhor trabalhada na obra posterior do diretor.
Mas não é só nos temas que a arte plena de Bergman se anuncia em "Juventude". Os closes incomparáveis, o uso expressivo do silêncio, o recurso freqüente aos espelhos, o controle absoluto de uma luz levemente expressionista -está tudo ali.
Irregular, tateante, ainda em busca da afirmação de um estilo, "Juventude" é uma espécie de Bergman em estado bruto, pleno de talento e frescor. Não é todo dia que temos oportunidade de presenciar a alvorada de um gênio.


JUVENTUDE
Direção:
Ingmar Bergman
Distribuição: Versátil (R$ 42,90, em média)
Avaliação: ótimo


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