São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mônica Bergamo @ - bergamo@folhasp.com.br
Laranjinha & Acerola Amigos como os personagens de "Cidade dos Homens", Quico e Pedro, filhos dos diretores Fernando Meirelles e Paulo Morelli, ensaiam carreira no cinema. Por Silvana Arantes
No primeiro dia de seu curso
de cinema na USP, ele se apresentou apenas como Francisco.
Não mencionou o sobrenome
Meirelles, igual ao de seu pai,
Fernando Meirelles, o cineasta
brasileiro que dispensa apresentações aqui e lá fora, desde o
sucesso mundial que alcançou
com "Cidade de Deus" (2002). "Não saio falando [que é filho de Fernando Meirelles], mas, se me perguntam, não tenho problema em dizer", conta Francisco Meirelles, 19, que é chamado pelo apelido de Quico por todos que o conhecem. Quico ficou bastante tempo longe da faculdade no segundo semestre do curso, no ano passado. Foi aprender a fazer cinema na prática, ao lado do pai. Ele andou pelo Canadá, pelo Uruguai e pelo centro de São Paulo, locais onde Fernando Meirelles filmou "Cegueira", longa adaptado do romance "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago, cujo título internacional é "Blindness". Por sugestão de Quico e pelo sim, pelo não, Fernando chegou a repetir cenas. "Muitas vezes, Quico veio me soprar no ouvido que um determinado "take" não estava bom ou que o ator não estava convincente. Eu sempre pedia mas um "take" quando ele vinha com essa", contou o cineasta, quando pôs um ponto final às filmagens, em outubro passado. Foi no set de "Cegueira" que Quico se aproximou de Pedro Morelli, 21, que, assim como ele, é estudante de cinema na USP, carrega o sobrenome do pai cineasta (Paulo Morelli) e representa o futuro da O2 Filmes. Fundada em 1991 por Fernando Meirelles e Paulo Morelli, a empresa é hoje uma gigante na produção de comerciais, séries de TV e filmes de cinema. Em "Cegueira", Pedro cuidou da preparação dos figurantes. Cerca de 300 pessoas, que tiveram de aprender a se locomover sem enxergar, já que na história criada por Saramago uma epidemia de cegueira atinge uma população inteira, exceto a mulher do médico (a atriz Julianne Moore, no filme). O desafio de Pedro era fazer com que os figurantes adotassem movimentos convincentes na tela. A função de Quico era se certificar de que toda a engrenagem em volta do diretor -a maquiagem dos atores, a preparação do cenário, das câmeras, etc- estivesse funcionando na hora do "ação". A seriedade do trabalho em "Blindness", que é provável concorrente à Palma de Ouro no próximo Festival de Cannes, não impediu que Quico e Pedro se divertissem nos intervalos, rodando "Blondness", um curta-piada de cinco minutos. Eles explicam a "trama" de "Blondness", idéia original de uma morena canadense que trabalhou na produção de "Blindness": "Subitamente, as pessoas vão ficando louras e burras. Tem uma cena muito engraçada com o roteirista Don McKellar, que interpreta o ladrão no filme. Ele está deitado. Quando acorda e vê que está louro, tem um chilique: "Preciso ter idéias. Não posso ser louro. Mas me deu uma vontade incrível de usar roupas cor-de-rosa e comprar um poodle'". De volta ao Brasil, o trabalho dos rapazes em "Cegueira" foi além das filmagens. Em dezembro passado, eles foram até Belo Horizonte, para registrar o processo de composição da trilha sonora de "Blindness" pelo músico mineiro Marco Antônio Guimarães, do Uakti. O material deve estar no futuro DVD de "Cegueira". Por isso, os rapazes decidiram seguir a mesma estética do filme, "em que as imagens incorporam muitos reflexos e espelhos", explica Pedro, gerando o efeito de tornar indefinida a localização espacial dos personagens. No quinto ano da faculdade, Pedro filma neste mês o curta de conclusão de curso "Mais Uma Noite", que "trata a balada de forma crítica", diz ele, e pretende discutir convenções como a dos "papéis que se esperam de um homem e de uma mulher na noite". Com a assinatura de diretor se avizinhando do currículo, Pedro sente nos ombros a pressão da expectativa alheia. "Para o meu curta, tive muito apoio da O2. Sei que a cobrança vai ser grande. Meu curta não pode ficar uma merda." Paulo Morelli trata a situação com humor: "Não pode ficar ruim mesmo, senão apanha em casa." Quico não dá bola para o que possam dizer de seu "DNA" de diretor. "Convenhamos, gente ruim não chega lá. Podem falar o que quiserem. Quando o cara é bom, é bom. Se eu não for bom nisso, vou fazer matemática ou história." Para o meu curta [de conclusão de curso, "Mais Uma Noite"], tive muito apoio da O2. A cobrança vai ser grande. Meu curta não pode ficar uma merda" PEDRO MORELLI estudante de cinema Convenhamos, gente ruim não chega lá. Podem falar o que quiserem. Quando o cara é bom, é bom. Se eu não for bom nisso, vou fazer matemática ou história QUICO MEIRELLES estudante de cinema Texto Anterior: Uma câmera na mão e um monstro na cabeça Próximo Texto: DVDs - Crítica/"Juventude": Filme de 1951 anuncia arte plena de Ingmar Bergman Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |