São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Crítica

"Bicho de Sete Cabeças" valoriza o marketing

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O que mais admiro nos filmes de Laís Bodansky é o marketing. Não que não haja outras coisas dignas de admiração. Mas o sentido do marketing raramente tem vez entre nós. Ou antes: ele só tem vez quando tudo gira em função dele.
Laís Bodansky tem um sentimento artístico, digamos assim. Não quer fazer filmes para estourar na bilheteria, mas também não quer ver platéias desertas. Sua estréia, em "Bicho de Sete Cabeças" (P&A, 15h), é especialmente feliz nesse aspecto, embora sacrifique brutalmente o conjunto.
Temos ali um filho que pratica um pequeno delito, consome maconha ou algo assim, e o pai trata de interná-lo numa clínica. A atitude não tem pé nem cabeça, mas sua grande virtude (do ponto de vista do marketing) é promover a partilha entre o mundo adolescente (livre, experimental) e o dos pais (repressivo, submisso).
É possível que o mundo seja assim mesmo, mas isso é o de menos. O importante é narrar a história a partir do ponto de vista do adolescente. E, para ele, o pai é sempre culpado. Em "Meu Nome Não É Johnny", sucesso do momento, o pai é culpado por fraqueza. Aqui, por excesso de força bruta.
A felicidade no marketing traz um contrapeso também violento: a organização da trama em termos de uma disputa entre bem e mal em que já se sabe quem é um e outro. Com isso, "Bicho..." defende o novo, o promissor, mas, também, à custa do novo, do promissor.


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