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Crítica
"Bicho de Sete Cabeças" valoriza o marketing
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que mais admiro nos filmes de Laís Bodansky é o marketing. Não que não haja outras
coisas dignas de admiração.
Mas o sentido do marketing raramente tem vez entre nós. Ou
antes: ele só tem vez quando tudo gira em função dele.
Laís Bodansky tem um sentimento artístico, digamos assim. Não quer fazer filmes para
estourar na bilheteria, mas
também não quer ver platéias
desertas. Sua estréia, em "Bicho de Sete Cabeças" (P&A,
15h), é especialmente feliz nesse aspecto, embora sacrifique
brutalmente o conjunto.
Temos ali um filho que pratica um pequeno delito, consome maconha ou algo assim, e o
pai trata de interná-lo numa
clínica. A atitude não tem pé
nem cabeça, mas sua grande
virtude (do ponto de vista do
marketing) é promover a partilha entre o mundo adolescente
(livre, experimental) e o dos
pais (repressivo, submisso).
É possível que o mundo seja
assim mesmo, mas isso é o de
menos. O importante é narrar a
história a partir do ponto de
vista do adolescente. E, para
ele, o pai é sempre culpado. Em
"Meu Nome Não É Johnny",
sucesso do momento, o pai é
culpado por fraqueza. Aqui, por
excesso de força bruta.
A felicidade no marketing
traz um contrapeso também
violento: a organização da trama em termos de uma disputa
entre bem e mal em que já se
sabe quem é um e outro. Com
isso, "Bicho..." defende o novo,
o promissor, mas, também, à
custa do novo, do promissor.
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