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"HISTÓRIAS DO FLAMENGO"
Documentário não faz jus ao time
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O cinejornal esportivo (ou melhor, futebolístico; melhor ainda,
"maracanístico") "Canal 100",
exibido antes dos longas-metragens nos cinemas brasileiros, fez a
delícia das gerações de cinéfilos-torcedores que se formaram entre
os anos 60 e os 80.
Com câmeras estrategicamente
colocadas em torno do gramado
-algumas ao nível do chão-,
objetivas precisas e um uso generoso da câmera lenta, o "Canal
100" não apenas colocava o espectador "dentro do campo" como
fixava de modo definitivo a beleza
plástica do futebol.
Hoje as transmissões esportivas
da TV adotam vários dos recursos
do "Canal 100": câmeras que correm sobre trilhos à beira do gramado ("travellings"), ângulos
inusitados de tomadas, closes em
jogadores e na bola, "instantâneos" de torcedores e do folclore
das arquibancadas etc.
Em suma, o "Canal 100" marcou época e instituiu um padrão
de filmar futebol.
Foi nesse acervo fabuloso que
Alexandre Niemeyer -filho do
criador do "Canal 100", Carlos
Niemeyer- foi buscar material
para compor o documentário
"Histórias do Flamengo".
Aliás, a tendência flamenguista
do cinejornal nunca foi escondida
de ninguém. As cores do Flamengo, o calor de sua torcida, o caráter pitoresco ou dramático de
seus ídolos -tudo contribuía para que o casamento entre o cinema e o clube da Gávea parecesse
uma união natural.
Pois bem. Em vista de tudo isso,
"Histórias do Flamengo" é um
documentário frustrante.
Claro, estão lá algumas imagens
preciosas -como as do craque
brigão Almir Pernambuquinho,
apanhando e batendo em todo
um time adversário-, mas o documentário peca em dois aspectos essenciais: a hierarquização
dos assuntos (com sua consequente escolha de imagens) e a
forma de abordagem.
No primeiro caso, é imperdoável deixar de fora, por exemplo,
imagens de craques míticos como
o exuberante Fio Maravilha e o
elegante Geraldo, morto jovem
numa operação de amígdalas.
Além disso, no grande time dos
anos 80, dá-se mais destaque ao
centroavante Nunes que ao próprio Zico. E um bom tempo do filme é dedicado à medíocre final do
campeonato carioca de 1999.
Quanto à forma, é um documentário preguiçoso e convencional, que costura as imagens de
arquivo com depoimentos de ex-jogadores (filmados de modo burocrático). Por cima de tudo, um
texto encharcado de sentimentalismo, na voz cavernosa e irônica
de Paulo César Pereio. O Flamengo e o espectador mereciam mais.
Avaliação:
Filme: Histórias do Flamengo
Direção: Alexandre Niemeyer
Produção: Brasil, 1999
Quando: a partir de hoje, no Unibanco 5
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