São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2000


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"HISTÓRIAS DO FLAMENGO"
Documentário não faz jus ao time

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas


O cinejornal esportivo (ou melhor, futebolístico; melhor ainda, "maracanístico") "Canal 100", exibido antes dos longas-metragens nos cinemas brasileiros, fez a delícia das gerações de cinéfilos-torcedores que se formaram entre os anos 60 e os 80.
Com câmeras estrategicamente colocadas em torno do gramado -algumas ao nível do chão-, objetivas precisas e um uso generoso da câmera lenta, o "Canal 100" não apenas colocava o espectador "dentro do campo" como fixava de modo definitivo a beleza plástica do futebol.
Hoje as transmissões esportivas da TV adotam vários dos recursos do "Canal 100": câmeras que correm sobre trilhos à beira do gramado ("travellings"), ângulos inusitados de tomadas, closes em jogadores e na bola, "instantâneos" de torcedores e do folclore das arquibancadas etc.
Em suma, o "Canal 100" marcou época e instituiu um padrão de filmar futebol.
Foi nesse acervo fabuloso que Alexandre Niemeyer -filho do criador do "Canal 100", Carlos Niemeyer- foi buscar material para compor o documentário "Histórias do Flamengo".
Aliás, a tendência flamenguista do cinejornal nunca foi escondida de ninguém. As cores do Flamengo, o calor de sua torcida, o caráter pitoresco ou dramático de seus ídolos -tudo contribuía para que o casamento entre o cinema e o clube da Gávea parecesse uma união natural.
Pois bem. Em vista de tudo isso, "Histórias do Flamengo" é um documentário frustrante.
Claro, estão lá algumas imagens preciosas -como as do craque brigão Almir Pernambuquinho, apanhando e batendo em todo um time adversário-, mas o documentário peca em dois aspectos essenciais: a hierarquização dos assuntos (com sua consequente escolha de imagens) e a forma de abordagem.
No primeiro caso, é imperdoável deixar de fora, por exemplo, imagens de craques míticos como o exuberante Fio Maravilha e o elegante Geraldo, morto jovem numa operação de amígdalas.
Além disso, no grande time dos anos 80, dá-se mais destaque ao centroavante Nunes que ao próprio Zico. E um bom tempo do filme é dedicado à medíocre final do campeonato carioca de 1999.
Quanto à forma, é um documentário preguiçoso e convencional, que costura as imagens de arquivo com depoimentos de ex-jogadores (filmados de modo burocrático). Por cima de tudo, um texto encharcado de sentimentalismo, na voz cavernosa e irônica de Paulo César Pereio. O Flamengo e o espectador mereciam mais.


Avaliação:   

Filme: Histórias do Flamengo Direção: Alexandre Niemeyer Produção: Brasil, 1999 Quando: a partir de hoje, no Unibanco 5

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