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CINEMA/ESTRÉIAS
Diretor inglês faz drama focado na interpretação de Judi Dench
Em "Sra. Henderson Apresenta", Stephen Frears perde o vigor
CÁSSIO STARLING CARLOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Toda história tem uma
moral, e toda moral tem uma
história. Com sua fé inabalável
nessa crença, o diretor britânico
Stephen Frears soube traduzi-la
para o cinema, produzindo tantos
filmes ótimos e alguns menos
bons. "Minha Adorável Lavanderia", "Ligações Perigosas" e "Os
Imorais", por exemplo, são hoje
clássicos que se enquadram na
primeira categoria. "Senhora
Henderson Apresenta" pertence
ao segundo time.
Sobre um pano de fundo de depressão econômica e do impacto
dos bombardeios noturnos de Hitler a Londres, Frears narra uma
história de confrontos de valores
projetada nos cenários de um teatro de variedades. Recém-viúva, a
esnobe senhora Henderson (Judi
Dench), em vez de se entregar aos
passatempos domésticos, decide
comprar um teatro. É quando
atravessa seu caminho o idiossincrático diretor Vivian van Damm
(Bob Hoskins).
A dupla, do tipo dois-que-se-odeiam-e-se-amam, além de se
enfrentar, encara a falta de recursos e as ameaças da censura, os
bombardeios e as perdas humanas para manter o negócio de pé.
E Frears elabora seu filme como
um afresco dessa dinâmica.
Enquanto interessado em mergulhar no universo do teatro, com
sua balbúrdia nos bastidores, as
rigorosas audições, a criatividade
em tempos de penúria e a própria
cena, feita de deliciosos (e kitsch)
números musicais, Frears faz bem
o papel de bom aluno. Mesmo um
tanto fora de seu habitat, resolve
tudo com elegância e reverência,
permitindo ao espectador identificar ali um tributo ao mestre inglês Michael Powell. Essa homenagem aparece, sobretudo, na
presença da fantasia como defesa
contra a destruição, do teatro como lugar seguro durante os bombardeios, uma das belas idéias
postas em cena aqui.
Mas é quando precisa se deslocar do geral e enfocar o particular
que o filme decepciona. A impressão é que o fato de poder contar
com dois atores tão exuberantes
(e juntos Dench e Hoskins dão
um show) deslocou o esforço de
Frears daquilo que é sua especialidade: a crítica dos valores e a demonstração de que os bons costumes estão sempre condenados a
caducar.
Ela existe e até sustenta algumas
das tantas reviravoltas do roteiro,
mas aparece de modo apenas ilustrativo. Por exemplo, no confronto com a censura, quando a senhora Henderson rompe o pudor
de exibir a nudez no palco.
Ao se concentrar demasiado em
uma personagem, por mais rica,
simpática e desafiadora que ela
seja, o filme acaba se aparentando
demais ao espetáculo de atriz, cujo show particular, com todo direito, enche os olhos, mas seu interesse termina aí. É como se "Ligações Perigosas" fosse mais um
filme de Glenn Close e não que esta estivesse ali a serviço da marquesa de Merteuil.
"Senhora Henderson Apresenta" não chateia, não cansa e até diverte. Mas quem conhece as ousadias do diretor vai sentir falta de
uma assinatura mais vigorosa. E
sair do cinema com a impressão
de ter visto um filme imaginado
por Stephen Frears e dirigido por
James Ivory.
Sra. Henderson Apresenta
Mrs. Henderson Presents
Produção: Inglaterra, 2005
Direção: Stephen Frears
Com: Judi Dench, Bob Hoskins
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco, Sala UOL de Cinema e circuito
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