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Crítica/aventura
"A Fragata Surprise" comprova talento de escritor britânico
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma citação hoje de
praxe, a série Aubrey-Maturin de romances
escrita por Patrick O'Brian
(1914-2000) foi descrita como
os "melhores romances históricos já escritos" pelo escritor e
editor Richard Snow, em uma
resenha de capa do suplemento
literário do jornal "The New
York Times" em 1991.
Até então, O'Brian era um
autor conhecido por poucos. Só
começou a fazer sucesso de público em 1990, quando os livros
da série foram reeditados nos
Estados Unidos. Ele tinha então 75 anos e era celebrado por
uma minoria de fãs, basicamente britânicos.
Pouco se sabia sobre ele até
praticamente sua morte, em
2000. Fazia pouco que se descobrira que seu nome real era
Richard Patrick Russ, e que ele
era inglês, não irlandês. Tinha
mudado de nome e de vida, largando a primeira mulher com
dois filhos. Vivia semi-recluso
no sul da França.
A série narra as aventuras de
um capitão da Marinha Real,
Jack Aubrey, e seu amigo médico e espião, Stephen Maturin.
O'Brian escreveu 20 romances
entre 1970 e 1999 com os personagens (um 21º, incompleto, foi
publicado postumamente em
2004). Dois deles serviram de
base ao filme de Peter Weir de
2003, "Mestre dos Mares - O
Lado Mais Distante do Mundo", com Russell Crowe no papel de Jack Aubrey.
"A Fragata Surprise" é o terceiro livro da série e é passado
em boa parte em mares asiáticos. Aubrey recebe o comando
do navio que praticamente durará o resto da série, uma fragata pequena, menos poderosa
que navios maiores dos vários
inimigos encontrados, franceses, espanhóis e também americanos. Ironicamente, no filme de Weir os americanos do
livro tornam-se franceses; não
dá pra imaginar um filme de
Hollywood com americanos no
papel de bandidos.
A ação, o combate naval, é o
que menos interessa. A série é
basicamente sobre relacionamentos humanos, centrada na
amizade entre dois personagens bem diferentes, que rende
bons momentos de humor sutil. Não são livros fáceis de traduzir. A linguagem da marinha
a vela é difícil de entender em
qualquer idioma.
Como declarou um biógrafo
de O'Brian, Dean King, o fato de
serem romances históricos excelentes, com perfeita caracterização de época e de linguagem, impedia que os críticos
vissem que eram de fato literatura de primeira qualidade.
Como o próprio O'Brian escreveu em um livro de ensaios,
"Patrick O'Brian: Critical Essays and a Bibliography" (Patrick O'Brian: ensaios críticos e
uma bibliografia), "o romance
histórico, como descobri com
alguma preocupação depois de
ter escrito dois ou três, pertence a um gênero desprezado".
Os fãs não ligam. O ator
Charlton Heston escreveu um
texto elogioso, publicado nesse
livro de ensaios e reproduzido
no final da edição brasileira de
"A Fragata Surprise". "O espanto é que os talentos de O'Brian
tenham demorado tanto para
ser adequadamente reconhecidos", escreveu o ator.
A FRAGATA SURPRISE
Autor: Patrick O'Brian
Tradução: Alves Calado
Editora: Record
Quanto: R$ 44,90 (416 págs.)
Leia o primeiro capítulo
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