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Peça mostra transformação de macaco em homem
Estreia "Comunicação a Uma Academia", de Kafka
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma vez capturado, um macaco aprende a fumar, descobre
a embriaguez e, por fim, se põe
a falar: para poder sair da jaula,
aprendeu a ser homem. Agora,
dá a acadêmicos o testemunho
de sua transfiguração.
Em "Comunicação a Uma
Academia", Franz Kafka (1883-1924) trilha uma rota inversa à
de "A Metamorfose", em que
um caixeiro-viajante se transformava em inseto. Uma montagem do primeiro protagonizada por Juliana Galdino e dirigida por Roberto Alvim, estreia
hoje em São Paulo, abrindo o
projeto Vitrine Cultural.
"Essa criatura descobre que,
por meio da imitação, teria uma
saída da situação de cativeiro e
morte. Mas liberdade plena
não há", diz Alvim, que aponta
três camadas no texto:
"Tudo é muito ambíguo. O
progresso [da condição simiesca para a humana] é exaltado,
mas também carregado de lamento, por ele ter abandonado
quem era em prol de uma coisa
que não o atraía em absoluto. E
há uma consciência da sordidez
da humanidade."
O macaco perceberá que o
disfarce "civilizado" não passa
de cárcere alternativo.
"É uma metáfora da anulação
de qualquer tipo de singularidade dentro da contemporaneidade. Aqui na [rua] Augusta
[onde está a sede da cia. dele],
há tribos com os mesmos cabelos, roupas e linguagem. Isso
não tem a ver com liberdade de
escolha, mas com a saída humana: adestre-se, faça parte de
alguma coisa", afirma o diretor.
"Somos todos como aquele
símio, a tragédia dele é a nossa:
trocamos a possibilidade de
descobrir nossa identidade por
comportamentos padronizados esperando um alento. Isso
é morte psíquica", conclui.
COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA
Quando: estreia hoje (para convidados); ter. e qua., às 21h; até 20/5
Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400, SP, tel. 0/xx/11/ 3241-4203)
Quanto: uma lata de leite em pó (até 31/3); a partir de 1º/4, R$ 10
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
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