São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009

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Peça mostra transformação de macaco em homem

Estreia "Comunicação a Uma Academia", de Kafka

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma vez capturado, um macaco aprende a fumar, descobre a embriaguez e, por fim, se põe a falar: para poder sair da jaula, aprendeu a ser homem. Agora, dá a acadêmicos o testemunho de sua transfiguração. Em "Comunicação a Uma Academia", Franz Kafka (1883-1924) trilha uma rota inversa à de "A Metamorfose", em que um caixeiro-viajante se transformava em inseto. Uma montagem do primeiro protagonizada por Juliana Galdino e dirigida por Roberto Alvim, estreia hoje em São Paulo, abrindo o projeto Vitrine Cultural. "Essa criatura descobre que, por meio da imitação, teria uma saída da situação de cativeiro e morte. Mas liberdade plena não há", diz Alvim, que aponta três camadas no texto: "Tudo é muito ambíguo. O progresso [da condição simiesca para a humana] é exaltado, mas também carregado de lamento, por ele ter abandonado quem era em prol de uma coisa que não o atraía em absoluto. E há uma consciência da sordidez da humanidade." O macaco perceberá que o disfarce "civilizado" não passa de cárcere alternativo. "É uma metáfora da anulação de qualquer tipo de singularidade dentro da contemporaneidade. Aqui na [rua] Augusta [onde está a sede da cia. dele], há tribos com os mesmos cabelos, roupas e linguagem. Isso não tem a ver com liberdade de escolha, mas com a saída humana: adestre-se, faça parte de alguma coisa", afirma o diretor. "Somos todos como aquele símio, a tragédia dele é a nossa: trocamos a possibilidade de descobrir nossa identidade por comportamentos padronizados esperando um alento. Isso é morte psíquica", conclui.



COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA

Quando: estreia hoje (para convidados); ter. e qua., às 21h; até 20/5
Onde: teatro Imprensa (r. Jaceguai, 400, SP, tel. 0/xx/11/ 3241-4203)
Quanto: uma lata de leite em pó (até 31/3); a partir de 1º/4, R$ 10
Classificação: não indicado a menores de 16 anos



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