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CRÍTICA
Antena do cantor capta anticonvenções
DO ENVIADO AO RIO
O disco "forasteiro" é pista
falsa, tanto quanto verdadeira -como sempre acontece
quando se trata de Caetano Veloso. Há elementos "brasileiros" coalhados em toda a extensão do extenso disco de
standards "A Foreign Sound".
"A New Carioca" lança o disco como axé chique, falso baiano, falso carioca, falso jamaicano, falsa portuguesa (como
Carmen Miranda), falso norte-americano.
Standards de araque, a canção de Bob Dylan, a canção de
Kurt Cobain e a não-canção do
DNA de Arto Lindsay sofrem
intervenções de músicos jovens como Davi Moraes e Pedro Sá. Tornam-se brasileiras
falsas, no sentido tropicalista
de ser. Saem em disparada à
frente do álbum, por força ou
efeito.
"Feelings", do falso estrangeiro Morris Albert, dá centro
conceitual ao trabalho. É "trapaça" brasileira que enganou
estrangeiros e virou emblema
cafona norte-americano. É o
momento kitsch de um disco
de fina estampa cafona-chique.
Tropicália.
"Diana", de Paul Anka, se finge de "Baby", de Caetano, que
em 68 se inspirara na matriz cafona daquele iê-iê-iê de gringo.
O grave de Elvis Presley vira o
agudo de Caetano, em "Love
me Tender", e o rock continua
sendo o rock.
Os standards mais convencionais do disco se contorcem
entre jazz norte-americano e
bossa nova, recombinando as
duas vertentes em diferentes
intensidades e direções. Arrastam-se, belos, ao longo do álbum.
Causam estranhamento, porque concentram um Caetano
que fala romanticamente sobre
desilusão amorosa, sobre sonhos dourados que se acinzentaram, sobre sentimentalismo
torturado. Expõem um homem convencional, o anti-Caetano Veloso.
Compõem um jogo de xadrez, um labirinto, um cubo
mágico. Trazem à lembrança
que ele foi um dos que mais
amaram o Brasil entre os homens de seu tempo.
Trazem à tona que ele está
novamente a se declarar estrangeiro, bem num momento
em que seu país adorado esboça tentativas de orgulho e auto-estima.
Importa menos saber por
que o brasileiro Caetano Veloso quer se dizer brasileiro afirmando-se estrangeiro.
Importa mais saber por que o
brasileiro Caetano Veloso faz-se novamente antena avançada
dos sentimentos de uma nação
e de uma sociedade que se pensam conservadoras.
Intriga mais querer saber por
que o Brasil, e não Caetano Veloso, não quer se declarar brasileiro e ao mesmo tempo altivo,
orgulhoso, ousado, corajoso.
"Um Som Forasteiro" ajuda a
achar as pistas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
A Foreign Sound
Artista: Caetano Veloso
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 30, em média
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