São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NINA HORTA

Assuntinhos ao léu

Espero ler que salada engorda e que correr na praia é um projeto, pelo menos, ridículo

DESDE O fim dos anos 50, as revistas americanas "Ladies" Home Journal" e "Good Housekeeping" apresentavam duas dietas por número. Quer dizer que a nossa cabeça foi bombardeada por regimes, todos os meses desde essa época. Claro que tudo mudava, quem não sabe... De dois em dois anos, aparecia um novo método indefectível, alguém havia emagrecido 30 kg comendo só abacaxi ou suco de berinjela, ou olhando para a lua.
Todos os gordos que diziam não comer muito, ou quase nada, ouviam com freqüência que a única coisa que emagrece é boca fechada, se alguém conhecia um gordo em Auschwitz. E o gorducho tinha que abaixar a cabeça diante de um argumento tão besta.
Pois não é que, de um ano para cá, e principalmente de uns meses para cá, temos tido artigos cada vez mais freqüentes que não ligam a gordura nem ao excesso de comida nem à falta de exercícios e chegam cada vez mais perto de explicações genéticas? Vamos ver onde vai dar isso, mas espero ler em vida que salada engorda e que correr na praia, como se não houvesse nem ondas, nem mar, com a cara para a frente contando calorias, é um projeto, pelo menos, ridículo.
Os livros novos estão se acumulando de maneira indecente na minha cabeceira. Vou simplesmente comentar que saíram e depois pensamos em ler.

 

"Bones -Recipes, History and Lore" (ossos - receitas, história e sabedoria popular), de Jennifer MacLagan (ed. Morrow). Comprei porque adoro osso, às vezes mais que a carne. Nada de costeleta, peito, filé de peixe, pernil de porco e de vitela sem osso. Olhem os nomes das receitas: rabada ao estilo chinês; ossobuco com molho de laranja; ossobuco assado. E a autora é estilista de pratos, fazendo o milagre de apresentar bem um pé de porco, umas asas assadas na Coca-cola, umas asinhas de frango no molho de soja. Temos que voltar a comer o que deixamos de lado.
Outro dia, num restaurante chinês, pedimos lulas, e o garçom afirmou que haviam acabado. Vimos um prato sendo servido, perguntamos o que era, e ele se desculpou. "Chamamos de lula os tentáculos, o principal. As rodelinhas geralmente não servimos, só se o cliente quer muito." Ora, bolas.
 

E stava querendo escrever sobre hospitalidade na Páscoa e encomendei um livro na Amazon, "Setting the Table: The Transforming Power of Hospitality in Business" (preparando a mesa: o poder transformador da hospitalidade nos negócios), de Danny Meyer (ed. Harper). Pois não era nada do que eu pensava, era a vida do Danny Meyer, dono do Union Square Cafe, em Nova York, um dos restaurateurs de maior sucesso nos Estados Unidos. Aos 27 anos, lançou seu restaurante; 23 anos depois, é dono da CEO, uma das mais dinâmicas e importantes organizações que trata de restaurantes.
O interessante é o que prega como fundamento do sucesso, a hospitalidade. Primeiro, e principalmente, com os empregados, depois com os clientes, comunidade, investidores e fornecedores. Um livro muito importante para donos de restaurantes. Voltamos a ele qualquer dia.
Devo me lembrar que há uns dez anos, depois de ter visitado a feirinha em frente, cansada, com dois netos pela mão, pusemos a cabeça para dentro do Union Square Cafe perguntando se aceitavam crianças descabeladas. Foi uma festa. Sentaram os meninos no bar, comentando risonhos: "Só se forem brasileiros que saibam tomar uma caipirinha!"
A comida foi excelente; a acolhida, alegre e verdadeira. Vínhamos da Europa, onde as crianças geralmente são tratadas como pestes a serem evitadas a todo custo, pois trazem consigo sarampo e catapora.
Chegou hoje também "The Art of Eating" (a arte de comer), de Edward Behr, que assino desde 1986, sobre comida e vinhos (www.artofeating.com). Boa.
Ainda há muita coisa amontoada na cabeceira, resolvemos com mais uma coluna, ok?

ninahorta@uol.com.br

Texto Anterior: Bom e barato: Desfrutti investe em pratos leves e bem-apresentados
Próximo Texto: Vendas digitais animam as gravadoras
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.