São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Milhazes expõe colagens em Paris

Uma das principais pintoras brasileiras, artista carioca faz intervenção em vidros da Fundação Cartier

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Esqueça o cubo branco. É dentro de um retângulo envidraçado, cercado por um jardim e iluminado pela luz natural que a pintora carioca Beatriz Milhazes expõe a partir de amanhã em Paris.
Treze obras ocupam o andar principal da Fundação Cartier -centro de arte contemporânea na zona sul da capital francesa- buscando recapitular as linhas principais do seu percurso plástico a partir dos anos 90.
Em dez pinturas, uma colagem e duas grandes intervenções sobre a fachada de vidro, ela apresenta seus arabescos, círculos, exuberância cromática e grafismos para um novo público. Com trajetória internacional consolidada, Milhazes já realizou instalações murais em Londres e Nova York, expôs em Tóquio, Berlim e Veneza, mas essa é sua primeira mostra importante na cidade.
"Não sei o que esperar da audiência francesa. A Inglaterra foi e ainda é o meu centro na Europa. Com sua tradição de op art e pop art, acho que eles captaram com uma certa rapidez o meu trabalho", disse a artista à Folha, durante a montagem. "A França é outra coisa. A história da arte moderna foi toda centrada aqui, e a arte contemporânea preferiu então fugir da pintura via arte conceitual, foto, vídeo... Acho que o que eu faço tende a ser recebido mais lentamente."
Milhazes vê pontos de contato entre sua obra e o modernismo. "Matisse, Mondrian e Tarsila são referências importantes para o meu trabalho. É a minha velha ideia de "cultura comendo cultura". Vamos ver como isso vai ser entendido."
O momento, de todo modo, foi bem escolhido. Com a chegada da primavera, os franceses costumam sair feitos loucos atrás de roupas, objetos e paisagens coloridas. As telas de Milhazes tendem a captar o olhar do espectador pela conjunção dos seus múltiplos universos de influência: da abstração geométrica ao barroco, com títulos que remetem à vegetação e à música brasileiras.
Uma colagem de 4 m x 5 m foi encomendada especialmente para a mostra. Nela, a artista manteve sua técnica de intercalar diferentes papéis a outros materiais. Já as instalações na fachada são feitas com vinil adesivo e interagem diretamente com a arquitetura "transparente" do prédio de Jean Nouvel e com as mudanças de luminosidade ao longo do dia. O procedimento é similar ao que adotou para as janelas da Estação Pinacoteca, em mostra no ano passado.
"Procurei criar uma harmonia entre três aspectos: as pinturas, os trabalhos nos vidros e o jardim lá fora", explicou a artista, que há dois anos pensa e prepara a exposição, com final marcado para 21 de junho.
"A pintura de Beatriz é sofisticada, em termos visuais e mentais. Complexa, tem uma dimensão de bricolagem que eu gosto", disse o diretor da fundação, Hervé Chandès.
A última artista brasileira a expor na Cartier foi Adriana Varejão, em 2005. Um ano antes, o espaço abrigou uma mostra sobre os ianomâmis, "estes artistas grandiosos", nas palavras do diretor. Marcada para julho, uma grande mostra coletiva sobre grafite tem nomes brasileiros já na lista -passagem curiosa da vegetação carioca à periferia paulistana.


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