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Extravagância de Dubai se tornou uma caricatura da arquitetura, diz Koolhaas
DO ENVIADO A CHARJAH E DUBAI
Dubai é duas vezes vítima.
Primeiro, o excesso de dinheiro
levou a estripulias arquitetônicas gratuitas e desnecessárias.
Depois, a crise mundial fez tudo parar na hora errada, e os esqueletos das torres ainda pela
metade viraram sinal de alerta
para o resto do planeta.
O diagnóstico é do holandês
Rem Koolhaas, vencedor do
Prêmio Pritzker em 2000 e um
dos arquitetos mais respeitados do mundo. "Fiquei desesperado porque a pressão da
economia de mercado estava
empurrando a arquitetura rumo à extravagância", disse
Koolhaas, 64, numa palestra
que deu em Charjah. "Dubai virou um centro de estranheza, é
a caricatura da arquitetura."
Seu único projeto em Dubai
-uma grande caixa ortogonal
de concreto- foi vetado por ser
simples demais. Agora Koolhaas estuda a região com olhar
antropológico, curioso com o
futuro da arquitetura. "Toda
essa extravagância é um sinal
de alerta e ao mesmo tempo um
sinal de esperança", resume.
"Dubai aconteceu, fomos coniventes com tudo isso, mas
também fomos os primeiros a
denunciar todos os seus absurdos", admite Koolhaas, que
agora monitora os projetos arquitetônicos da região na revista "Al Manakh", que criou com
correspondentes locais. "Também seremos os primeiros a dizer a Dubai que tudo acabou,
que não será mais a mesma."
"Vogue" e Dubai
É uma ideia que pesa ainda
mais em tempos de crise, que
tornou cafona qualquer tipo de
ostentação. Até a cultuada editora da "Vogue" norte-americana, Anna Wintour, disse que
ninguém mais vai se vestir de
forma "muito brilhante, muito
extravagante, muito Dubai".
Se antes a cidade era sinônimo de luxo desmedido, agora
pode se tornar um novo laboratório para projetos mais sóbrios. "Há um paradoxo estranho entre a velha Dubai e a nova Dubai", diz Koolhaas. "Espero fervorosamente que a crise
possa instaurar um novo modo
de pensar; projetos foram adiados, atrasados, camuflados."
O novo Guggenheim, por
exemplo, símbolo desse exagero agora em decadência, tem
construídas só as pontes para a
ilha onde deve ser instalado,
que continua vazia. Perguntado
pela Folha o que acha do projeto, Koolhaas ficou um tempo
em silêncio e arrematou: "É isso que eu acho".
(SILAS MARTÍ)
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