São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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Crítica/filme/"A Estrada"

Filme é menos rico do que o livro e mais fraco que fita de zumbi

ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como o recente "O Livro de Eli", de Albert e Allen Hugues, "A Estrada" repete a visão hollywoodiana do mundo pós-apocalipse: não há mais comida, energia ou humanidade: os sobreviventes erram como zumbis, praticando o canibalismo em um mundo gelado, coberto de poeira e cinzas.
Adaptado do premiado romance do texano Cormac McCarthy, o filme mostra a odisseia de um homem (Viggo Mortensen) e de seu filho de 11 anos (Kodi Smit-McPhee) pelos devastados EUA, assolados por toda sorte de perigos.
Como contraponto a tanta ruína, irrompem sonhos e lembranças do homem do tempo em que era feliz: a mulher (Charlize Theron) tocando piano, sua casa onde havia Coca-Cola na geladeira.
O filme é fiel ao romance em relação ao relato: pai e filho rumam para o Sul arrastando sua miserável bagagem em um carrinho de supermercado.
Mas os aspectos íntimos e psicológicos da questão da paternidade em um mundo sem futuro que o livro levanta são tratados de modo rasteiro pelo filme. Ele não vai além da moral afirmada pelos tabus criados pelo pai -não comer gente, não praticar a violência gratuita-, que mostram uma fé na vida e na humanidade.
Outra característica do romance se perdeu: o registro seco de McCarthy, que chama a atenção pela aridez e pelo minimalismo, em que o terror é mais sugerido, metafórico. O filme é claramente literal.
O diretor australiano John Hillcoat preferiu usar a receita de uma cena de ação a cada dez minutos, um susto a cada esquina -com algumas incursões gore, como a sequência das infelizes vítimas do porão dos canibais. O resultado é menos rico do que o livro, mais fraco do que um filme de zumbis.


Avaliação: regular


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