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Crítica/filme/"A Estrada"
Filme é menos rico do que o livro e mais fraco que fita de zumbi
ALEXANDRE AGABITI
FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Como o recente "O Livro
de Eli", de Albert e
Allen Hugues, "A Estrada" repete a visão hollywoodiana do mundo pós-apocalipse: não há mais comida, energia
ou humanidade: os sobreviventes erram como zumbis, praticando o canibalismo em um
mundo gelado, coberto de poeira e cinzas.
Adaptado do premiado romance do texano Cormac
McCarthy, o filme mostra a
odisseia de um homem (Viggo
Mortensen) e de seu filho de 11
anos (Kodi Smit-McPhee) pelos devastados EUA, assolados
por toda sorte de perigos.
Como contraponto a tanta
ruína, irrompem sonhos e lembranças do homem do tempo
em que era feliz: a mulher
(Charlize Theron) tocando piano, sua casa onde havia Coca-Cola na geladeira.
O filme é fiel ao romance em
relação ao relato: pai e filho rumam para o Sul arrastando sua
miserável bagagem em um carrinho de supermercado.
Mas os aspectos íntimos e
psicológicos da questão da paternidade em um mundo sem
futuro que o livro levanta são
tratados de modo rasteiro pelo
filme. Ele não vai além da moral
afirmada pelos tabus criados
pelo pai -não comer gente, não
praticar a violência gratuita-,
que mostram uma fé na vida e
na humanidade.
Outra característica do romance se perdeu: o registro seco de McCarthy, que chama a
atenção pela aridez e pelo minimalismo, em que o terror é
mais sugerido, metafórico. O
filme é claramente literal.
O diretor australiano John
Hillcoat preferiu usar a receita
de uma cena de ação a cada dez
minutos, um susto a cada esquina -com algumas incursões
gore, como a sequência das infelizes vítimas do porão dos canibais. O resultado é menos rico do que o livro, mais fraco do
que um filme de zumbis.
Avaliação: regular
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