São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA ELETRÔNICA

Festas organizadas por DJs locais levam nomes de peso a São Miguel Paulista

Baile tecno

Raphael Falavigna/Folha Imagem
Cena da festa UFO, que acontece numa pizzaria em São Miguel Paulista, zona leste da cidade


CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

O DJ paulistano Vitor Lima, 20, uma das revelações de 2001, soltou essa, logo depois de sair de trás dos pick-ups da festa UFO, em São Miguel Paulista: "Hoje não tem lugar mais animado para tocar em São Paulo".
Ele era um dos dez DJs escalados para tocar na festa, que acontece todo mês numa rua de São Miguel Paulista, um dos bairros mais barras-pesadas da zona leste de São Paulo. Naquele domingo de abril, havia cerca de mil pessoas ali, dançando de trance a electro, de house a hard tecno.
A UFO é uma das três festas gratuitas de música eletrônica que acontecem no bairro. Há ainda a Urban Sound e a React.
As três acontecem na rua, durante o dia, são organizadas por DJs locais -que não ganham nenhum dinheiro com isso- e estão ficando conhecidas por levar DJs famosos ao bairro, que fica a quase 30 km de clubes como o Next -o mais próximo dali, no centro da cidade.
"A vibe que rola numa festa dessas é muito sincera", diz Lima. "Não é assim nos clubes. O pessoal vai a essas festas de rua por causa da música. Porque ali não tem modelo famosa, não tem iluminação bacana. É só o DJ e a pista, que é na rua mesmo."
A UFO é organizada por Cleber Motta, 23, DJ de trance que mora em São Miguel até hoje.
"Comecei a fazer umas festas em 97 em São Miguel. Tinha uma rádio comunitária que ajudava", conta. "Não sou um top DJ, mas toco quase toda semana por aí. Por isso resolvi voltar a fazer as festas aqui. É uma opção a mais para a galera local, que até então não tinha chance de conhecer uma pista decente. Além de custar caro, os clubes ficam muito longe daqui."
Para bancar a festa, Motta conta com patrocinadores locais, como o dono da pizzaria onde a festa acontece, a Urbano's.
Na ponta do lápis, a festa custaria bem mais do que os R$ 500 que acaba consumindo. "Todo mundo ajuda, os patrocínios são os mais diferentes", conta (leia texto ao lado).
Quem foi tocar pela primeira vez na UFO gostou da experiência. "Não estava esperando encontrar o que vi ali. Estava cheio de gente, o astral bem alegre, descontraído. Tem gente que pode pensar: "Festa de rua em São Miguel, vai ser superviolento...". Nada disso", diz Camilo Rocha, 33, outro famoso que tocou na UFO. "O pessoal foi muito caloroso, e a pista bombou o tempo todo. O mais legal é que a festa cria oportunidade para pessoas que não podem pagar um ingresso de Skol Beats ou de uma rave", conclui.

Bombonnière
Também em São Miguel Paulista, a React, organizada pelo DJ Mimi, começa a crescer. Nasceu do projeto Chill in Bombom, festa que acontecia dentro de uma bombonnière em São Miguel. Em setembro de 2001, ganhou alvará para rolar numa das ruas do bairro. No último domingo, reuniu 1.200 pessoas.
O apoio da Prefeitura de São Paulo rendeu policiamento e um palco. A festa tem ainda ajuda de comerciantes locais. Assim, na última React, havia carrinho de algodão-doce, um pula-pula e show pirotécnico de graça.
A vontade de colocar o bairro no circuito de festas de música eletrônica é o que motiva os organizadores. "O evento é totalmente cultural. Sinceramente não há condições de pagar os DJs... Mas, se conseguirmos mais patrocinadores fortes, é uma possibilidade", diz Mimi, o pai da React.
Motta, da UFO, diz algo parecido: "A idéia não é ganhar dinheiro, é trazer algum benefício para os jovens. Comecei a tocar aqui, moro aqui, a duas quadras do local da festa. É duro ver que clubes da zona leste, como a Overnight e a Sound Factory, acabaram".
Ramilson Maia, um dos DJs que foram tocar de graça, disse que musicalmente não fez concessões, mesmo achando que o público poderia não estar por dentro de música eletrônica. "Toquei porrada, e a galera delirou. Achei que ia encontrar um monte de gente que só estava a fim de bagunçar. Mas o povo conhece música, sim", disse o DJ de drum'n'bass.
A festa cresceu tanto que deverá passar a ser bimestral. "A idéia era fazer todo mês, mas, como o evento atingiu proporções que não esperávamos, resolvemos fazer a cada dois meses, mais ou menos, para termos mais tempo para trabalhar", diz o DJ e promoter. A próxima React está marcada para 16 de junho.



Texto Anterior: Erika Palomino
Próximo Texto: Eventos são bancados por comércio local
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.