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Crítica/"Cuba sem Fidel"
Esboço biográfico joga luz sobre história de Raúl Castro
Escrito por ex-agente da CIA, obra destaca Fidel, mas ajuda a entender novo líder
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Raúl Castro, o novo líder
de Cuba, ainda é um
desconhecido. Embora
observadores mais atentos estejam cientes de que se trata de
um político pragmático, com
talento para a administração, a
biografia do irmão do líder Fidel Castro é, em grande parte,
ignorada.
Poucos sabem que se trata de
um homem que contemporiza
diante de decisões desagradáveis, depende psicologicamente da aprovação de terceiros e é
avesso a leituras. Ou que, inseguro desde a juventude (chegou
a treinar como toureiro para
melhorar a autoconfiança), tornou-se alcoólatra (ainda não
recuperado).
Esse perfil de Raúl, que completa 77 anos em um mês, foi
traçado por Brian Latell em
"Cuba sem Fidel". Ex-agente da
CIA, Latell tem autoridade. Foi
o responsável por corrigir um
erro de avaliação do governo
americano, que o subestimava.
Apesar do que o título sugere,
o livro não é principalmente sobre Raúl. Fidel merece bem
mais espaço. Mas o revolucionário histórico é conhecido de
todos, e Latell, que cita extensivamente a entrevista que Fidel
concedeu a Frei Betto em 1985,
não apresenta novidade. Assim,
a obra vale pelo esboço biográfico de quem, a partir de agora,
dá as cartas na ilha.
Raúl é retratado em dois momentos. Nos primeiros tempos
da revolução, quando ostentava
um longo rabo-de-cavalo que
lhe valeu o apelido de El Chino,
militava na linha-dura.
Era também chamado de
"Robespierre de Cuba", referência ao terror jacobino que
espalhou com muitas execuções no país.
Nessa época, empurrado por
Fidel, aproximou-se de Moscou. Apreciava a cultura soviética a ponto de manter em seu
gabinete suvenires do país que
sustentaria Cuba.
Mas esse é o Raúl do passado.
Mais útil é conhecer o Raúl de
hoje. Sua base são as Forças Armadas, a instituição cubana
mais bem preparada, em parte
pela meritocracia que Raúl, enquanto ministro da Defesa, fez
prevalecer nas promoções.
Futuro
O que esperar de seu governo? Na economia, uma abertura já em curso, tendo como modelo a China. Na política, a manutenção da ditadura comunista (Latell vislumbra a possibilidade da eleição de um presidente civil, mas esse fato isolado pouco significaria).
Na diplomacia, Raúl deve
tentar aproximação com os Estados Unidos. Evidência disso,
argumenta o autor, é o fato de,
enquanto ministro, ter aprovado o uso da base de Guantánamo pelos EUA para receber
suspeitos de terrorismo.
Para Latell, o futuro de Raúl
dependerá de como ele lidar
com a sociedade civil. "Ele terá
de adotar medidas palpáveis a
fim de aplacar o descontentamento geral e elevar o padrão
de vida das massas, sem, no entanto, abrir as válvulas de forma muito exagerada ou muito
precipitada."
Apesar do posfácio escrito
em fins de 2007, "Cuba sem Fidel" tem, aqui e ali, informações defasadas, um defeito menor diante da lacuna que
preenche.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).
CUBA SEM FIDEL
Autor: Brian Latell
Tradução: Jorge F. Soares
Editora: Novo Conceito
Quanto: R$ 39,90 (346 págs.)
Avaliação: bom
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