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Crítica/"O Grande Livro do Jornalismo"
Compilação funciona como aula de reportagem
ESPECIAL PARA A FOLHA
O escritor Charles Dickens, certo dia em
1845, decidiu assistir a
uma execução na guilhotina em
Roma. Logo que a cabeça rolou,
"o carrasco já a segurava pelos
cabelos, mostrando-a às pessoas, antes que se soubesse exatamente que a lâmina caíra
com todo peso e um barulho de
chocalho".
Em 1982, Robert Fisk entrou
no campo de refugiados palestinos de Chatila após o massacre promovido pela direita cristã. Havia crianças entre as vítimas. Ele vê uma menina. "Tinha os cabelos curtos e cacheados, e o olhar carrancudo nos fitava. Estava morta."
Dickens abre e Fisk (com outro texto) fecha a coletânea "O
Grande Livro do Jornalismo".
São exemplos de "relatos objetivos, mas apresentados de
uma forma muito particular",
na definição de boa reportagem
de Jon Lewis, o organizador.
Há uma outra execução no livro, a da espiã Mata Hari, em
1917, que, segundo Henry Wales, "morreu encarando literalmente a morte, pois recusou ter
os olhos vendados".
A predominância, no entanto, é de relatos de guerras, o que
é natural, uma vez que são matéria-prima por excelência da
reportagem. A do Vietnã é vista
por Michel Herr, que seria o
responsável pelo argumento de
"Apocalypse Now". Ele entrevista um piloto de helicóptero:
"Vietnã, cara, a gente bombardeia e dá comida, bombardeia e
dá comida".
O livro é um mosaico. A feminista Gloria Steinem conta sua
experiência como coelhinha da
"Playboy"; Jack London perambula por uma São Francisco arrasada pelo terremoto de
1906 ("Só uma vez o sol rompeu
a mortalha da fumaça, vermelho-sangue e com um quarto do
seu tamanho normal"); Maureen Cleave ouve de John Lennon que os Beatles são mais populares do que Cristo.
E há os grandes nomes: John
Reed, Dorothy Parker, John
Steinbeck e George Orwell, este
com uma pungente descrição
da pobreza do norte industrial
da Inglaterra em 1937. São 54
autores. É pouco mais da metade do original, mas a seleção é
defensável. Há falhas pontuais,
como a eventual falta de contexto. E equívocos, como afirmar que 1966 foi o começo do
fim dos Beatles. A leitura dos
mestres, porém, é uma aula de
jornalismo.
(OP)
O GRANDE LIVRO DO
JORNALISMO
Organização: Jon E. Lewis
Tradução: Marcos Santarrita
Editora: José Olympio
Quanto: R$ 49 (378 págs.)
Avaliação: bom
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