São Paulo, segunda, 3 de maio de 1999

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VIOLÊNCIA
Indústria cultural não discute massacre

RENATO FRANZINI
de Nova York

Cinco dos principais conglomerados de cinema e música dos Estados Unidos se recusaram a enviar executivos amanhã para testemunhar em uma audiência no Senado que discutirá o efeito de filmes, discos e videogames violentos sobre os jovens americanos.
Essa audiência é a primeira de uma série marcada por diversos comitês do Congresso dos EUA depois do massacre da escola Columbine, em Littleton (Colorado), que resultou em 15 mortes.
No dia 20 de abril, dois estudantes armados entraram na escola e abriram fogo contra estudantes e professores, situação que lembra uma cena do filme "Diário de um Adolescente" (1995), com Leonardo DiCaprio.
Desde então, deputados e senadores passaram a discutir a possibilidade de implantar leis restringindo (ou sobretaxando) produtos culturais "violentos". Principalmente depois que se soube que os autores do massacre eram fãs do cantor Marilyn Manson, autor de letras que falam em morte.
A recusa de Time Warner, Sony, BMG, Viacom (dona da Paramount) e Seagram (Universal Studios) de participar dessa audiência foi interpretada por analistas políticos como um sinal de que será difícil implantar nova legislação.
As audiências são comuns no Congresso norte-americano e muitas vezes são o primeiro passo para a criação de nova lei.
Segundo o porta-voz do senador republicano Sam Brownback, do Comitê de Comércio, que convocou a audiência, os estúdios de cinema serão representados pelo presidente da Associação Americana de Cinema, Jack Valenti.
Brownback fez uma série de discursos no Senado nos quais disse que a mídia é um "fator comum" no aumento da violência juvenil. "A imersão de crianças problemáticas numa cultura de glorificação da violência é uma receita para o desastre", disse na última quarta.
No mesmo dia, ele mostrou num quadro negro aos senadores uma letra do cantor Marilyn Manson que dizia o seguinte: "Meu ódio é um prisma. Vamos apenas matar todo mundo e deixar seu Deus escolher entre eles. Foda-se".
Os executivos evitaram comentar as palavras dos congressistas. Mas, no dia da tragédia no Colorado, o presidente da Time Warner, Gerald Levin, acusou os políticos de "oportunismo". "A TV é um bode expiatório fácil. Cadê o grito contra a proliferação de armas?", perguntou.
Pressionado por congressistas, o presidente dos EUA, Bill Clinton, convocou para o dia 10 de maio um fórum de discussão das causas da violência entre os jovens, com representantes das indústrias de armas e produção cultural. Na sexta, tentou não culpar ninguém pelo massacre. Sua única ação até agora foi propor uma lei restringindo a venda de armas a jovens.
Os críticos o acusam de fazer isso porque os estúdios estão entre seus maiores doadores de campanha. A Time Warner, produtora do violento "Assassinos por Natureza", doou para o comitê democrata, somando 1997 e 1998, US$ 211 mil. A Saban, produtora de desenhos como "Homem-Aranha" e "As Tartarugas Ninjas", doou US$ 328 mil.



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