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MÚSICA
Dupla de Detroit improvisa show fora do teatro Amazonas; Jack White e modelo inglesa casam em cerimônia com padre e pajé
O dia em que o White Stripes abalou Manaus
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
"Hoje está sendo um grande dia
para mim, Jack White", disse o
multiinstrumentista e vocalista
do White Stripes a certa altura do
show da dupla em Manaus, anteontem à noite. Não era exagero:
além de protagonizar o primeiro
show de rock no centenário teatro
Amazonas, Jack White, aos 29
anos, havia se casado horas antes.
Mais: não contentes em se apresentar "apenas" no palco, Jack e
Meg White interromperam o
show, saíram do teatro e tocaram,
de forma improvisada, sem microfone ou caixas de som, uma
canção para a multidão que se
aglomerava na praça em frente.
Havia, segundo a Polícia Militar, cerca de 4.000 pessoas do lado
de fora, assistindo à apresentação
da dupla de Detroit por meio de
dois telões. Quando Jack, empunhando um violão, e Meg, segurando um bongô, chegaram à
parte de cima das escadarias do
teatro, a multidão correu para lá.
Como os músicos haviam decidido aquilo na hora, nenhum esquema de segurança havia sido
preparado. Jack tentava cantar,
mas a histeria era tamanha que
nada se ouvia. Houve empurra-empurra e, após alguns minutos,
os dois, escoltados, retornaram ao
teatro. Meg foi carregada nos ombros de um segurança.
Muita gente tentou entrar e até o
coordenador da turnê da banda,
John Baker, chegou a ser barrado
na porta. A organização do evento
temeu algo pior, mas a situação
foi controlada. "Foi o melhor
show da minha vida", entusiasmou-se o estudante Augusto Rodrigues, 17. "Nunca nenhum artista internacional toca aqui."
A aventura do White Stripes,
que já passou por ruínas na Guatemala, por Misiones, na Argentina, e que chega hoje ao Rio e amanhã a São Paulo, começou no dia
anterior. Após a entrevista coletiva, na terça, Jack e Meg, mais as 15
pessoas que viajam com a dupla,
embarcaram em um passeio pelo
rio Negro. Foram até uma aldeia
indígena, compraram artesanato
(três pequenas estátuas de madeira foram colocadas no palco durante o show) e brincaram com filhotes de jacarés.
Anteontem, às 8h30, saíram do
hotel e pegaram novamente o
barco. Desta vez, foram ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Lá, em cerimônia que teve
a presença de um padre e de um
pajé, Jack casou-se com a top model inglesa Karen Elson, 26.
À noite aconteceu o primeiro
show brasileiro da turnê que promove o lançamento do quinto
disco da banda, "Get Behind Me
Satan", que chega às lojas brasileiras amanhã, de acordo com a gravadora Sum Records, dois dias
antes do lançamento mundial.
Inaugurado em 31 de dezembro
de 1896, o teatro Amazonas, acostumado a eruditos como Wagner,
teve todos os seus 701 lugares ocupados por fãs do White Stripes
-e por curiosos. "Comecei a me
interessar por eles quando fiquei
sabendo que eles viriam", disse a
advogada Priscila Mendonça, 24.
Jack White subiu ao palco vestindo casaco e camiseta pretos e
calça vermelha; Meg usava uma
camiseta branca e calça de couro
preto. A primeira música foi
"Blue Orchid", do novo disco.
"Vamos preservar o nosso teatro", anunciara uma locutora
pouco antes do início do show.
Nem era preciso o aviso. O público se comportou e, sem levantar
das cadeiras (de jacarandá, forradas com veludo vermelho), balançava a cabeça e batia os pés.
O volume do som, abaixo do
utilizado normalmente pela banda, não incomodou -a acústica
do teatro Amazonas é irrepreensível, e tanto a voz de Jack quanto os
instrumentos surgiam límpidos.
Além de "Blue Orchid", quatro
músicas do álbum novo apareceram: "Little Ghost", "The Nurse",
"My Doorbell" e "Passive Manipulation" -esta última, de menos de um minuto e cantada por
Meg White, veio em três momentos: em andamento normal no
piano, um pouco mais acelerada
e, depois, com Jack na guitarra.
Não há setlist prévio -em vários momentos, Jack aponta para
Meg e diz o que ela deve fazer, se
inicia batidas na bateria ou se vai
para um bumbo. A apresentação
é imprevisível, toda diferente do
visto no Tim Festival de 2003, no
Rio. "Dead Leaves and the Dirty
Ground" e "Hotel Yorba" arrancam gritos, e "Love Sick", cover de
Bob Dylan, é reverenciada com
respeito. Em vários momentos,
Jack e Meg "duelam", ele na guitarra e num microfone postado
em frente à bateria.
Após a quinta música, Jack não
se aguenta: "Vocês não vão se levantar, não?". O público, claro, se
levantou. Em "Fell in Love with a
Girl", foi a primeira vez que o teatro Amazonas e suas colunas ocas
(para ajudar a acústica) de ferro
presenciaram pessoas pulando.
Um já tradicional cover de Burt
Bacharach, "I Just Don't Know
What to Do with Myself", é tocado, mas é interrompido. Jack
White, então, vai ao piano, canta
alguns versos de "(I'll Be with
You) in Apple Blossom Time", de
Barry Manilow, e dedica para Karen Elson ("Que lindo dia de casamento (...) / Que lindo dia para
você e para mim"). Depois, retorna com "I Just Don't Know...".
E aí, passados pouco mais de
uma hora, eles se despedem. E aí
eles voltam logo depois, e Jack diz:
"Esperem um pouco, porque eu e
minha irmã vamos lá para fora". E
os dois saem do teatro, seguidos
pela maioria do público.
Retornam ao palco alguns minutos depois e encerram a apresentação com o hit "Seven Nation
Army". Muitos pularam, muitos
gritaram, alguns choraram. E, numa autêntica beatlemania, terminou a aventura amazônica do
White Stripes.
O repórter Thiago Ney viajou a convite a produtora Mondo
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