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"O CACHORRO"
Sorín não arrisca e se perde no enfado
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Carlos Sorín, o cineasta do
silêncio, volta às frias e desérticas paisagens da Patagônia argentina para contar mais uma de
suas "histórias mínimas".
Como em seu filme anterior
-"Histórias Mínimas" (2002),
justamente-, o diretor reuniu
um grupo de não-atores, habitantes de vilarejos da Província de
Santa Cruz, para interpretar papéis parecidos com os que realmente encarnam no dia-a-dia.
Poucos diálogos, muitos símbolos, revelados em expressões faciais e pequenos gestos, conduzem a narrativa que, também a
exemplo do filme anterior do diretor, trata de uma busca pessoal
por meio de uma viagem tanto
geográfica como interior.
Juan Villegas, um ex-funcionário de um posto de gasolina recém-fechado, está sem emprego e
vaga com sua caminhonete em
busca de bicos. Ao realizar um
conserto no carro de uma viúva e
de sua filha, é presenteado por
ambas, que não têm dinheiro para pagar-lhe pelo serviço, com um
belo cachorro de raça, desses que
competem em exposições.
A princípio, Juan não sabe bem
o que fazer com o animal, até que
é introduzido por um contador
do banco local ao mundo dos
criadores de cachorro.
Juan se associa então ao treinador Walter Donado, que fica animado com o potencial do cão e logo o inscreve numa competição
em Bahía Blanca. Bombón, o cachorro, corresponde, ganhando
prêmios, dinheiro, status e deixando o dono maravilhado, ainda
que, o tempo todo, desconfiado
de que alguma coisa deveria estar
errada, pois tamanha sorte não
lhe cairia no colo assim tão fácil.
Dito e feito, Bombón, apesar de
campeão, não consegue "dar conta do recado" quando encomendam que deixe prenha uma fêmea. "Sofre de falta de libido", diz
o veterinário, categórico.
Destratado e humilhado por todos, o cão vê sua sorte mudar novamente, só que desta vez para
pior, do dia para a noite. Apenas
Juan fica enternecido com a sua
situação, até porque parece reconhecer na falha do cão as próprias
frustrações que acumulou ao longo da vida.
Sem ousar dar um passo além
da via que trilhou com sucesso em
"Histórias Mínimas", Sorín, aqui,
parece esgotar de vez aquela fórmula. "O Cachorro" é um filme
enfadonho, que não passa de um
"road show" empenhado em
mostrar as belezas interiores escondidas por trás de rostos brutalizados pelo clima e pela vida num
lugar desértico e distante.
O Cachorro
Bombón, el Perro
Direção: Carlos Sorín
Produção: Argentina, 2004
Com: Juan Villegas, Walter Donado
Gregório, Rosa Valsecchi
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes e
Lumière
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