São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2005

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"O CACHORRO"

Sorín não arrisca e se perde no enfado

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Carlos Sorín, o cineasta do silêncio, volta às frias e desérticas paisagens da Patagônia argentina para contar mais uma de suas "histórias mínimas".
Como em seu filme anterior -"Histórias Mínimas" (2002), justamente-, o diretor reuniu um grupo de não-atores, habitantes de vilarejos da Província de Santa Cruz, para interpretar papéis parecidos com os que realmente encarnam no dia-a-dia.
Poucos diálogos, muitos símbolos, revelados em expressões faciais e pequenos gestos, conduzem a narrativa que, também a exemplo do filme anterior do diretor, trata de uma busca pessoal por meio de uma viagem tanto geográfica como interior.
Juan Villegas, um ex-funcionário de um posto de gasolina recém-fechado, está sem emprego e vaga com sua caminhonete em busca de bicos. Ao realizar um conserto no carro de uma viúva e de sua filha, é presenteado por ambas, que não têm dinheiro para pagar-lhe pelo serviço, com um belo cachorro de raça, desses que competem em exposições.
A princípio, Juan não sabe bem o que fazer com o animal, até que é introduzido por um contador do banco local ao mundo dos criadores de cachorro.
Juan se associa então ao treinador Walter Donado, que fica animado com o potencial do cão e logo o inscreve numa competição em Bahía Blanca. Bombón, o cachorro, corresponde, ganhando prêmios, dinheiro, status e deixando o dono maravilhado, ainda que, o tempo todo, desconfiado de que alguma coisa deveria estar errada, pois tamanha sorte não lhe cairia no colo assim tão fácil.
Dito e feito, Bombón, apesar de campeão, não consegue "dar conta do recado" quando encomendam que deixe prenha uma fêmea. "Sofre de falta de libido", diz o veterinário, categórico.
Destratado e humilhado por todos, o cão vê sua sorte mudar novamente, só que desta vez para pior, do dia para a noite. Apenas Juan fica enternecido com a sua situação, até porque parece reconhecer na falha do cão as próprias frustrações que acumulou ao longo da vida.
Sem ousar dar um passo além da via que trilhou com sucesso em "Histórias Mínimas", Sorín, aqui, parece esgotar de vez aquela fórmula. "O Cachorro" é um filme enfadonho, que não passa de um "road show" empenhado em mostrar as belezas interiores escondidas por trás de rostos brutalizados pelo clima e pela vida num lugar desértico e distante.


O Cachorro
Bombón, el Perro
  
Direção: Carlos Sorín
Produção: Argentina, 2004
Com: Juan Villegas, Walter Donado Gregório, Rosa Valsecchi
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes e Lumière


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