|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ROCK/"MAKE BELIEVE"
Weezer é verdadeiro em "faz de conta"
DA REPORTAGEM LOCAL
Em inglês, "Make Believe", título do quinto disco do Weezer, significa "faz de conta". Não
leve a sugestão a sério: "Make Believe" é paradoxalmente o CD
mais verdadeiro de Rivers Cuomo, líder do grupo californiano.
Algo pode ser dito sobre a "falta
de criatividade" dos arranjos do
disco, que, pela primeira vez, traz
a grife de Rick Rubin, um dos produtores mais requisitados do rock
americano. Faixas de "Make Believe", como "Perfect Situation" e
"Hold Me", soam demais como
o... Weezer! Estrofe-refrão-estrofe, epifanias de guitarra, crescendos de bateria, uivos melódicos de
Rivers Cuomo, a velha fórmula.
Com exceção de uma ou outra
faixa, em que tenta outros caminhos, como o retrocesso aos anos
80 em "This Is Such a Pitty" ou ao
punk sujão dos 70 em "My Best
Friend", o disco traz pouca (ou
nenhuma) novidade musical.
Liricamente, no entanto, é que a
coisa muda. Se havia alguma dúvida que Cuomo, o compositor, é
mesmo um esquisitão instável,
ora sensível, ora egocêntrico, que
a imprensa ajudou a cristalizar
nos últimos anos, "Make Believe"
a dissipa com todas as letras.
Com a emblemática "Beverly
Hills", de riffs preguiçosos e repetitivos, sai descartando de cara o
status de celebridade que ganhou
nestes últimos dois anos em que,
querendo ou não, entrou para a
história do pop. "A verdade é que,
eu não sirvo pra isso / É algo que
você tem de nascer para / E eu não
faço parte / Sou só um pé-rapado
desclassificado e tolo / E sempre
vou ser assim", crava.
Como alguém que nunca conseguiu concluir a faculdade, dar
atenção aos amigos, ou manter
um relacionamento duradouro,
Cuomo pede desculpas em "Pardon Me" e "Freak Me Out" ("Eu te
machuquei? Você está bem? Posso lhe pagar uma bebida?").
Boa parte da crítica, cansada talvez das variações de humor do rapaz, não aceitou o pedido. Chutou
cachorro morto, como se diz, repetindo que, desde o cultuado
"Pinkerton" (96), a banda não fez
nada que preste. Não é a opinião
deste ouvinte. "Make Believe" é
organicamente inseparável da
discografia do Weezer. Um disco
sincero, com qualidades e com
fraquezas, como eu, como você,
como Cuomo.
(DIEGO ASSIS)
Make Believe
Artista: Weezer
Lançamento: Universal
Preço: R$ 35, em média
Texto Anterior: "Pista Livre": Cachorro Grande revê sonho brasileiro Próximo Texto: Nas lojas Índice
|