São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"PISTA LIVRE"

Cachorro Grande revê sonho brasileiro

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os inúmeros clichês que acompanham a cultura do rock'n'roll, o mais persistente (nefasto, por vezes) é aquele que vê a estagnação como meta. Ou seja, o mais autêntico e verdadeiro seria aquele que zela pela pureza estilística do gênero e por valores eternizados lá pela época de ouro dos anos 60 e 70.
Por esse ângulo, a banda Cachorro Grande, que lança seu terceiro álbum, "Pista Grande", é o mais nefasto dos grupos, ao mesmo tempo em que mostra um dos melhores shows de rock da praça atualmente. Mas, no Brasil, ângulos não seguem regras, e os gaúchos apresentam uma proposta que resume anos de tortos conceitos roqueiros do país.
O grande mote do disco é algo na linha "finalmente, chegamos lá", já que o trabalho foi masterizado no estúdio londrino Abbey Road -eternizado pelos Beatles- pelo engenheiro de som Chris Blair, sujeito que já trabalhou com a nata do pop estrangeiro (Radiohead, Pink Floyd etc.).
"A idéia foi da gravadora. No começo, achei pretensão demais", diz o vocalista Beto Bruno. "É meio complicado explicar o que essa masterização significa, na prática. Mais fácil é colocar nosso disco para tocar ao lado de estrangeiros. O som fica mais redondo, tudo fica mais padronizado."
Se a base é a comparação, a banda é como uma comédia americana cheia de clichês -o que não configura um mau filme. Estão no disco as letras juvenis/tolas, o elogio ao desregramento e os riffs de guitarra que grudam na cabeça.
Mais do que indicar um possível subdesenvolvimento do rock brasileiro, "Pista Livre" segue no mesmo espírito do dono da loja de discos do livro "Alta Fidelidade", de Nick Hornby. Recusando-se a crescer, mergulhado numa bolha, a banda cria um universo em que Rolling Stones e Mutantes ainda são jovens. Criação artística, no final das contas, começa na construção de realidades próprias e coerentes, ainda que irreais.


Pista Livre
   
Artista: Cachorro Grande
Lançamento: Deck Disc
Quanto: R$ 27, em média


Texto Anterior: Música: Com Juliette & The Licks, atriz faz turnê em festivais europeus
Próximo Texto: Rock/"Make Believe": Weezer é verdadeiro em "faz de conta"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.