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"PISTA LIVRE"
Cachorro Grande revê sonho brasileiro
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre os inúmeros clichês
que acompanham a cultura
do rock'n'roll, o mais persistente
(nefasto, por vezes) é aquele que
vê a estagnação como meta. Ou
seja, o mais autêntico e verdadeiro seria aquele que zela pela pureza estilística do gênero e por valores eternizados lá pela época de
ouro dos anos 60 e 70.
Por esse ângulo, a banda Cachorro Grande, que lança seu terceiro álbum, "Pista Grande", é o
mais nefasto dos grupos, ao mesmo tempo em que mostra um dos
melhores shows de rock da praça
atualmente. Mas, no Brasil, ângulos não seguem regras, e os gaúchos apresentam uma proposta
que resume anos de tortos conceitos roqueiros do país.
O grande mote do disco é algo
na linha "finalmente, chegamos
lá", já que o trabalho foi masterizado no estúdio londrino Abbey
Road -eternizado pelos Beatles- pelo engenheiro de som
Chris Blair, sujeito que já trabalhou com a nata do pop estrangeiro (Radiohead, Pink Floyd etc.).
"A idéia foi da gravadora. No
começo, achei pretensão demais",
diz o vocalista Beto Bruno. "É
meio complicado explicar o que
essa masterização significa, na
prática. Mais fácil é colocar nosso
disco para tocar ao lado de estrangeiros. O som fica mais redondo,
tudo fica mais padronizado."
Se a base é a comparação, a banda é como uma comédia americana cheia de clichês -o que não
configura um mau filme. Estão no
disco as letras juvenis/tolas, o elogio ao desregramento e os riffs de
guitarra que grudam na cabeça.
Mais do que indicar um possível
subdesenvolvimento do rock brasileiro, "Pista Livre" segue no
mesmo espírito do dono da loja
de discos do livro "Alta Fidelidade", de Nick Hornby. Recusando-se a crescer, mergulhado numa
bolha, a banda cria um universo
em que Rolling Stones e Mutantes
ainda são jovens. Criação artística, no final das contas, começa na
construção de realidades próprias
e coerentes, ainda que irreais.
Pista Livre
Artista: Cachorro Grande
Lançamento: Deck Disc
Quanto: R$ 27, em média
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