São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006 |
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Camisa 10 pode sintetizar sonho ou tragédia, diz inglês
Jogadores como Francescoli, Baggio e Puskas surgem por
serem brilhantes e por simbolizarem o trágico no futebol
O mais interessante em "The
Perfect Ten" são as descrições
biográficas de cada escolhido
do autor.
A conclusão a que chegamos é
que, dificilmente, uma lista
pessoal de melhores jogadores
não será sentimental e errática.
Isso porque não são só os critérios de habilidade e o número
de títulos que contam, mas o
quanto a trajetória particular
de um jogador pode nos tocar.
É o caso do uruguaio Enzo
Francescoli. Por que um rapaz
algo quebradiço, de uma seleção que não foi vitoriosa -a do
Uruguai nos anos 80-, está na
lista de preferidos de Richard
Williams? Pela tragédia que
sintetizaria, a de uma nação
que foi a primeira a dominar o
futebol e depois entrou num
declínio quiçá irreversível.
O livro começa nos anos 50,
quando Ferenc Puskas levou
uma luminosa Hungria até as
finais da Copa de 1954, para ali
mesmo morrer na praia.
Mas Puskas é retratado de
modo amplo. Williams expõe o
cenário pós-Segunda Guerra,
quando os times húngaros perderam quadros para os campos
de batalha, dando lugar a jovens como ele. Com a Hungria
virando um satélite soviético,
Puskas virou exemplo de como
o sucesso no esporte dava prestígio a uma nação.
Já Pelé surge como alguém
que "foi fiel a uma das nações
mais caóticas do mundo, demonstrando que a glória no
campo pode dar um senso de
identidade para um povo que
tem pouco mais do que isso, a
não ser pelo clima amigável, para confortá-lo".
Assim como Francescoli, o
italiano Roberto Baggio também aparece por causa do infortúnio. Curvado, a lamentar o
pênalti chutado para cima do
gol de Taffarel, na final da Copa
de 1994, ele encarna a "injustiça com que o futebol trata seus
atores". "Usar a 10 pode ser o
ápice de um jogador e, ao mesmo tempo, seu fardo", diz.
Mas, então, Pelé deu origem
a uma mística ou a uma verdadeira praga? "Depende, se o jogador for, justamente, um Pelé,
ele pode concretizar nossas
fantasias, senão, virar uma
grande vítima desse número
sobrenatural."
(SYLVIA COLOMBO)
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