São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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BIA ABRAMO

Novela das oito une prestígio e carisma


Em "Paraíso Tropical", os personagens, mais do que a trama, criam um universo atraente


O ALARME soou na semana passada. Não foi nem uma nem duas vezes que me perguntaram: "Você está vendo a novela?", "Escuta, o que você está achando da novela?". Ou, naquele tom levemente culpado que muitas pessoas assumem ao falar de televisão, confessaram: "Putz, a novela me pegou".
A novela em questão é "Paraíso Tropical", aquela que foi vaticinada ao fracasso logo no início, mas que aparentemente aprumou, em termos de audiência. Agora, deu um passo além, atingindo aquele desejável patamar de prestígio e carisma, que torna o ato de assisti-la perto do imperdível.
As razões são várias e, boa notícia, pouquíssimas dependem desses esteróides de audiência que se tornaram tão comuns nas tramas. Ninguém se "viciou" na novela porque fica esperando alguma mulher ser espancada -embora até tenha rolado um engalfinhamento entre Ana Luísa e Fabiana.
O nome, ou melhor, os nomes são Bebel, Olavo e Jáder. E Marion e Ivan. E Fred e Neli. A novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares conseguiu criar aqueles personagens que fazem o espectador ligar a TV para reencontrá-los -só para ver como eles estão e se continuam adoráveis (ou odiosos, ou intrigantes, ou surpreendentes) como foram deixados no dia anterior.
É como se esses personagens conseguissem ultrapassar a "história" da novela. Se a trama principal ainda escorrega no clichê, se o par central ainda patina num romantismo muito doméstico, importa pouco.
Queremos ver Bebel provocando Olavo e Jáder sofrendo, com ciúme da prostituta. Queremos ver o janota Fred falar de auto-ajuda corporativa com ar compenetrado num momento e chantagear Neli em outro. Queremos ver Marion, a trambiqueira-sênior, dar lições de sua ética bastante particular para Thais, a trambiqueira-júnior.
Há tempos uma novela não causava esse efeito. Em "Celebridade", havia, claro, o par Laura e Marcos, de altíssimo teor sexual e canalhice simpática. "Belíssima", por sua vez, trouxe de novo um par caliente, Safira e Pascoal, além de personagens secundários que garantiam os aspectos mais cômicos da novela. Giovanni e a vilã Nazaré, em "Senhora do Destino", também conquistaram o apreço do público.
Mas o que acontece em "Paraíso Tropical" é um pouco diferente: são os personagens, mais do que a trama, que conseguem criar um universo atraente, no qual o espectador deseja, de algum modo, estar.

biaabramo.tv@uol.com.br


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