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Crítica
"Alcatraz" reflete sobre a liberdade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Robert Bresson escreveu, em
seu "Notas sobre o Cinematógrafo", que não devemos temer
uma má reputação, e sim uma
boa reputação que não possamos sustentar.
A frase me vem à memória
quando penso em John Frankenheimer, de quem se vê "O
Homem de Alcatraz" (TCM,
22h). Que relação tem o filme
com "Ronin" (1998), o último
filme dele a obter repercussão?
Nenhuma que eu identifique.
"Ronin" é só um filme comercial, "O Homem de Alcatraz", reflexão sobre o sentido
da liberdade a partir do destino
de um homem que as circunstâncias levaram ao cativeiro.
"Ronin" vai empurrado pela
barriga, como se ouvisse o ponto batendo a cada seqüência.
"O Homem", ao contrário, é
feito do desejo de mostrar, de
trazer o inusitado à tela.
É verdade que, antes de "Ronin", Frankenheimer criou um
fascinante "George Wallace"
para a TV, mas esse deve muito
ao personagem (o ex-governador racista do Alabama que, diz
o filme, nunca foi pessoalmente racista).
Pode-se dizer que o melhor
de JF está nos anos 60, um
pouco nos 70, quando conseguiu trazer a inquietude da câmera de reportagem para a ficção. Nesse momento, ele fazia
brilhar até títulos comerciais,
como "Grand Prix": até hoje,
com toda a tecnologia, ninguém filmou corridas de automóvel tão bem. Mas, nas últimas décadas, o diretor parece
viver de uma reputação que já
não se esforça para sustentar.
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