São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

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Rock de arromba

Erasmo Carlos comemora 68 anos de vida e 49 de carreira com "Rock'n'Roll", álbum carregado de guitarras e com a paixão pelo sexo feminino em primeiro plano

Daryan Dornelles/Folha Imagem
Eramos Carlos posa para retrato em sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Na sexta-feira, Erasmo Carlos completa 68 anos, 49 dos quais dedicados à música. Preparou um disco para chegar às lojas no mesmo dia. Não se trata de um trabalho retrospectivo, como os que seus colegas de geração costumam fazer em datas como esta. Também não segue a linha da auto-homenagem, motivo do mais recente show protagonizado por seu parceiro de fé, Roberto Carlos.
Produzido por Liminha, o disco novo de Erasmo é novo mesmo. "Rock'n'Roll" traz 12 canções inéditas, todas compostas por ele sozinho ou com parceiros. E, como bem antecipa seu título, traz as guitarras de volta ao primeiro plano. O mote roqueiro surge principalmente nos arranjos, mas também aparece verbalmente em "A Guitarra É uma Mulher", de Erasmo com Chico Amaral, letrista assíduo do Skank. "A ideia contraria o machismo dos caras do rock, que consideram a guitarra um símbolo fálico, emblema masculino de poder, do herói", diz o cantor.
"Quando a gente ressalta que ela é do sexo feminino, lembramos o carinho que o cara tem que ter com esse instrumento." O sexo feminino é mote recorrente na obra de Erasmo, que, em 1981, lançou um disco chamado simplesmente "Mulher". Em "Rock'n'Roll", elas aparecem em profusão.
Só na faixa "Olhar de Mangá", ele cita nominalmente (mas nem sempre com os sobrenomes) dezenas delas. Marilyn, Gisele, Vera Fischer, Madonna, Rita Lee, Malu Mader, Luana, Fernandinha e Fernandona, Marina, Dona Flor, Marge Simpson... A lista é gigante.

Ecologia e fim do mundo
"Eu gosto muito de usar a mulher ou o amor como pano de fundo nas músicas", diz. "Mas, mesmo nas mais românticas, coloco embutidos outros assuntos mais sérios, que muitas vezes ninguém percebe." A ecologia é um deles. No novo disco, ela surge na apocalíptica "Mar Vermelho", letra de Nando Reis. É o fim dos tempos como forma de libertação.
"O fim do mundo já está sendo. Começou há muito tempo", profetiza. "Ninguém disse que tudo acabaria em um único dia. Só seria assim rápido se houvesse um choque entre planetas, se a Terra saísse de órbita ou se acontecesse a invasão de alguém [extraterreno]."
Além de Reis, Amaral e do próprio Erasmo, os outros letristas do disco são Nelson Motta, Liminha e Patrícia Travassos. Todas as canções com esses novos parceiros foram feitas à distância, por e-mail. Só com Roberto o modo de compor continua o mesmo de antes. Encontram-se e fazem tudo juntos, letra e música, fundindo as ideias até que nem eles mesmos consigam definir depois quem contribuiu com o quê. Estão com três músicas novas prontas, que devem sair no próximo disco de Roberto.
Erasmo é compositor compulsivo. Leva o gravador para a cama, para o banheiro, para o avião, para os camarins. Sabe que tem de registrar qualquer ideia que surja, porque, minutos depois, ela pode escapar. Além das faixas de "Rock'n'-Roll", tem, prontas ou por terminar, parcerias com Marcelo Camelo, Marisa Monte, Marcos Valle, que deve ser lançada no próximo CD de Simone, e Bia Mendes, vocalista da formação atual dos Mutantes.
Mas nem sempre é assim tão fértil. De tempos em tempos, tem vazios criativos que duram semanas, meses. A primeira vez que aconteceu foi em 1972. Achou que jamais conseguiria compor de novo.
"Pensei que a fonte tivesse secado e cheguei a ficar meio depressivo", lembra. "Mas Narinha [sua mulher, já morta] conversou com a Marieta Severo e ela contou que o Chico Buarque sofria dessa mesma coisa. Ele ficava desesperado achando que a criatividade tinha sumido pra sempre. Foi só saber disso que sarei na hora."
O jornalista MARCUS PRETO viajou a convite da gravadora Coqueiro Verde.



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