São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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cinema

Toni Venturi decide ir atrás do público

No sétimo longa-metragem, cineasta coloca atores famosos no elenco e procura criar história mais acessível

"Estamos Juntos", que traz Cauã Reymond no papel de gay, se constrói como um poema visual da cidade de São Paulo

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

O tempo, algumas vezes, faz as pessoas e as coisas rejuvenescerem. Parece ter sido esse o caso de Toni Venturi e de seu cinema. No sétimo longa-metragem, o cineasta paulistano, de 55 anos, surge mais leve e esperançoso.
"Estamos Juntos", que entra hoje em cartaz, dá continuidade a uma obra que começou com o documentário "O Velho" (1997), sobre Luiz Carlos Prestes. Ao mesmo tempo, rompe com ela.
"Sete é um número forte", diz o diretor, que recebeu a Folha num hotel dos Jardins. "Não sei se sou supersticioso." Talvez seja. Mas o sete, aqui, marcou um amadurecimento. Um novo patamar.
"Estamos Juntos" nasceu do desejo de Venturi de voar com a câmera pela cidade de São Paulo. De fazer um poema visual da metrópole.
Com Hilton Lacerda (de "Baile Perfumado" e "Árido Movie", entre outros), escreveu um roteiro em camadas.
São várias as histórias que se anunciam na primeira meia hora. E são diversos também os caminhos que o espectador pode seguir.
"Tenho percebido que cada um vê um filme", diz o diretor. "Estamos Juntos" é filme gay, filme social e filme sobre o rito de passagem da juventude mais irresponsável para a vida adulta.
O projeto foi habilitado na Ancine (Agência Nacional de Cinema) em 2003. Sua concepção é até mesmo anterior à de "Cabra Cega", longa-metragem que lançara em 2004. "Foi um processo demorado. Não era um roteiro fácil."
Tampouco foi fácil o elenco dar corpo a seus papeis.
Leandra Leal passou um mês nos plantões do Hospital Universitário e, além de desvendar o ofício de cirurgiã, teve de adaptar seu corpo ao enigma da paralisia cerebral.
Cauã Reymond, por sua vez, fez um curso de DJ e frequentou a noite gay paulistana; Dira Paes teve de despir-se da fogosa Norminha da novela "Caminho das Índias" para ganhar a expressão engajada de líder do movimento dos sem-teto.

CICLO DA LUZ
Já Venturi, pela primeira vez, não figurou como produtor e pôde se dedicar exclusivamente à direção. "O projeto foi formulado para ser o que eu queria, como artista, mas também para que chegasse a alguém."
"Cabra Cega" (2004), sua última ficção, foi lançado com oito cópias. "Estamos Juntos" terá 40. "Pensei no elenco e na própria natureza da história, que eu não queria que fosse triste. Estou um pouco cansado dessas obras niilistas, que mostram que a sociedade contemporânea não tem solução, que tudo nos leva à solidão."
Venturi conta que, quando estreou na ficção, com "Latitude Zero" (2001), estava desesperançado em relação ao país. "Era a crise pós-real, o país estancado...", descreve. Seu filme acabou por espelhar esse desalento.
Mas, de lá para cá, mudou o país e mudou sua vida. "Tive dois filhos, sou casado com uma mulher maravilhosa que me aguenta... A gente vive ciclos. Neste momento, estou no ciclo da luz."


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