São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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CRÍTICA SHOW

Criolo dá vida a seus contrastes em show "de agradecimento"

Artista lançou álbum "Nó na Orelha" com superbanda de 14 integrantes no palco do Sesc Vila Mariana, em SP


A MAIOR DESCOBERTA, TALVEZ INCONSCIENTE, DE CRIOLO É MESMO ESSA: O SIM E O NÃO PODEM CONVIVER SEM QUE SEJAM, NECESSARIAMENTE, CONTRADITÓRIOS


MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

São Mateus não é um lugar assim tão longe, cravou o compositor Rodrigo Campos em título de seu álbum de estreia, há dois anos. O Grajaú, onde cresceu e se criou Criolo, está ainda mais perto.
Perto da Vila Mariana, onde fica o Sesc em que aconteceu anteontem -com dobradinha ontem-, o primeiro show de "Nó na Orelha", o recém-lançado trabalho de Criolo e, desde então, um dos melhores discos do ano.
Conviviam na plateia, igualmente encantados, o mano do rap e o playboy dos Jardins, a cantora de folk e o crítico de literatura, o rico e o pobre, o preto e o branco.
Estereótipos? Eles valem e, ao mesmo tempo, pouco importam no universo proposto por Criolo. Se no disco essas "contradições" já eram claras, no palco (e na plateia), ganham mais elementos. Todos de sim e de não.
A noite parece que vai ser de "bota fora", uma cerimônia oficial de despedida entre Criolo e o hip hop, em que atuou por 20 anos. Ele mesmo diz logo que não se trata de um show de lançamento, mas de agradecimento ao passado, ao que já foi.
Mas, adiante, nega que tenha se tornado "um cantor", como todos repetem a respeito dele, agora. "Sou um MC!" Ainda brincando entre o sim e o não, canta que "não existe amor em SP" e desmente a própria frase com o tom amoroso da voz, com a camisa da Gaviões da Fiel, torcida organizada do Corinthians, que desperta paixões.
Alinhado em terno e gravata, canta a mais brega de suas canções autorais, "Freguês da Meia-Noite" -e, depois, acrescenta ao repertório um tema obscuro de Nelson Ned. Conceitos de bom e mau gosto valem tanto quanto não valem. Convivem, é isso que realmente importa.
No final das contas, a maior descoberta, talvez inconsciente, de Criolo é mesmo essa: o sim e o não podem conviver sem que sejam, necessariamente, contraditórios. O mesmo vale para o branco e para o preto, para os Jardins e para a periferia, para o mano do rap e para o playboy da av. Paulista.
É política de inclusão.

BIG BAND
A menos que Criolo se torne um artista do mainstream, vai ser difícil vê-lo assim outra vez. A banda que o acompanhou no Sesc somava 14 pessoas em cena, incluindo trio de metais e do de cordas.
Só a fina flor da nova guarda paulistana, como Marcelo Cabral (baixo), Kiko Dinucci (violão), Guilherme Held (guitarra). E participações de Verônica Ferriani e Juçara Marçal (vocais) e Rodrigo Campos (cavaquinho).
Tudo sob o comando de Daniel Ganjaman, o homem por trás do som de Criolo. Fizeram uma noite histórica. Para o rap e além dele.

Criolo

AVALIAÇÃO ótimo


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