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TV
Ministério Público Federal suspeita da idoneidade de novo dono da emissora, a TeleTV, que explorava telessorteios
Procurador investiga venda da Manchete
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local
O Ministério Público Federal começou nesta semana a investigar a
venda da TV Manchete para o grupo TeleTV, por cerca de R$ 250 milhões. Os procuradores da República em São Paulo André de Carvalho Ramos e Duciran Van Marsen Farena estão questionando a
idoneidade e capacidade econômico-financeira dos novos donos donos da Manchete, que agora se
chama Rede TV!.
O Ministério Público Federal
também quer apurar se há algum
grupo estrangeiro por trás da negociação. As cinco concessões da
Manchete (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte) foram transferidas em 17 de
maio do grupo Bloch para o grupo
TeleTV, com aprovação do Ministério das Comunicações.
"Queremos ter certeza se os novos donos têm capacidade e idoneidade para assumir uma concessão. Em princípio, há indícios sobre a idoneidade do grupo, pois no
passado efetuava os telessorteiros,
que são ilegais", diz Ramos.
O grupo TeleTV afirma que comprovou sua capacidade financeira
em documentação enviada ao Ministério das Comunicações e que
os boatos sobre sócios estrangeiros
são ficção. Quanto aos telessorteios, diz que tinha autorização do
Ministério da Justiça (leia abaixo).
Ramos e Farena comandaram
em São Paulo, em 97 e 98, as investigações que culminaram com a
suspensão em setembro do ano
passado, pelo Tribunal Regional
Federal, dos telessorteios pela TV,
via prefixo 0900.
Uma das empresas do grupo TeleTV, a Tecplan, é ré em duas ações
civis públicas que tramitam no
Tribunal Regional Federal em São
Paulo. A Tecplan é a empresa do
grupo TeleTV que opera o sistema
de ligações telefônicas interativas
(0900). As outras empresas do grupo são a Tecnet (automação em telecomunicações e sistema bancário) e a Ômega (uma produtora de
TV). Pertencem a Amílcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho.
A Tecplan, assim como outras
operadoras de sorteios 0900, é acusada de promover o que o Ministério Público Federal chama de "telejogatina". Nas ações civis públicas,
os procuradores argumentam que
o telessorteio é ilegal, por não haver lei específica sobre o assunto, e
que as as operadoras do sistema se
aproveitaram de lei de 1971 que
permitia às entidades filantrópicas
promover um sorteio por ano, para arrecadar fundos.
"As operadoras e as emissoras
ganhavam, mas as entidades filantrópicas não", afirma o procurador Ramos. Em setembro de 97, reportagem da Folha mostrou que as
filantrópicas ficavam com apenas
5% do arrecadado.
Os procuradores desconfiam que
a TeleTV não tem capacidade financeira para assumir uma rede de
TV que poderia estar devendo cerca de R$ 600 milhões.
O grupo TeleTV diz que pagou
R$ 250 milhões pela Manchete e
que não herdou todas as dívidas da
empresa -apenas os salários atrasados de 1.500 funcionários e dívidas com o governo.
O capital social da Tecplan era de
R$ 1 milhão, conforme alteração
contratual registrada em 6 de abril
do ano passado. Antes disso, segundo o procurador Ramos, o capital social era de R$ 80 mil. O grupo TeleTV diz ter faturado R$ 400
milhões no ano passado.
"Causa espécie que esses provedores (de ligações via 0900), que
eram empresas pequenas, tenham
fôlego financeiro para gerir a TV
Manchete", afirma o procurador.
Daí as suspeitas de que estariam
envolvidos na transação grupos
estrangeiros, que só apareceriam
após aprovação de emenda constitucional, em tramitação no Congresso, que permite até 30% de capital internacional em empresas de
radiodifusão brasileiras -atualmente, o capital estrangeiro é totalmente vetado em TV e rádio.
No último dia 10, os procuradores Ramos e Farena enviaram ao
secretário-executivo do Ministério
das Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, recomendação para que o governo comprovasse à Receita Federal, à Advocacia Geral da União, à Secretaria do
Direito Econômico e ao Departamento de Defesa do Consumidor a
capacidade financeira e a idoneidade da TeleTV.
Em resposta, no último dia 21, o
ministério disse que a transferência de concessões "obedeceu aos
estritos princípios legais" e que
"restou sobejamente demonstrada
a idoneidade e a capacidade econômico-financeira não só da empresa que recebeu a concessão (a
Ômega) como também das demais
empresas do grupo".
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