São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra com mais de 200 obras de artistas ibero-americanos é aberta hoje em Olinda

A identidade que nos separa

"Políticas da Diferença" traça perfil das artes na América Latina nos anos 90, segundo dez curadores

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A OLINDA

A imensa bandeira dos Estados Unidos costurada com pedaços das bandeiras de Cuba e Porto Rico, obra do artista porto-riquenho Ernesto Pujol, dá a impressão, logo na entrada da mostra "Políticas da Diferença", que a arte latino-americana é feita como confronto com a grande potência do continente.
Acima da bandeira, outra obra, a palavra resistência em néon, do artista chileno Gonzalo Dias, reforça o caráter político de quem entra pelo Centro de Convenções de Pernambuco, sede da mostra.
Mero engano. É parte da estratégia do curador-geral, Kevin Power, apresentar logo no início da mostra obras relacionadas às questões políticas.
Conforme se vai caminhando pela exposição, os temas sociais vão diluindo-se para questões que refletem uma poética de expressão mais refinada. Em se tratando de América Latina, é difícil criar uma só identidade plástica.
Não por acaso, é no último segmento que se concentram as obras de artistas brasileiros. "O Brasil é o país da mostra com a mais poética linguagem plástica, talvez porque no contexto latino-americano o peso da história seja algo a menos", conta o inglês Power, durante a montagem da exposição no último sábado, em Olinda.
A idéia da "Políticas da Diferença -Arte Ibero-americana do Fim do Século" surgiu há quatro anos durante um congresso de teoria crítica latino-americana em Valência, na Espanha. Desde então, um grupo de dez curadores tem trabalhado sob a coordenação de Power. Alguns foram responsáveis pela seleção de obras de apenas um país, outros por uma região, como Power que trabalhou com o Caribe. Pelo Brasil, a crítica de arte Aracy Amaral foi a responsável (leia texto abaixo).
Há ainda uma categoria especial, referente a artistas com ascendência ibero-americana que vivem nos Estados Unidos, selecionados por Victor Zamudio Taylor. No total, são 87 artistas com cerca de 200 obras.
"Não é uma exposição de teses; ela toma o pulso de uma situação, que é a diversidade da produção plástica nos anos 90 por artistas ibero-americanos", conta Power.
A construção da mostra não obedeceu a um conceito, ele foi sendo construído nas últimas semanas, a partir da seleção dos curadores. Assim, uma polêmica na montagem foi se a organização deveria ser feita por países ou pela aproximação de linguagens. Venceu a segunda opção.
Não há previsão de que a mostra chegue a São Paulo. Após Pernambuco, ela segue ainda para Buenos Aires, para o novo museu do colecionador Eduardo Costantini, Venezuela, México, EUA e termina a itinerância em 2003, em Valência, onde tudo começou.
"Para alguns curadores, seria melhor abrir a mostra num museu de um grande centro brasileiro, mas, de acordo com o conceito da mostra, acho mais adequado começar por um lugar alternativo, que sequer é um espaço museológico", conta Power.
Não há em Pernambuco nenhum local com as dimensões que a mostra requer. Por isso, o Centro de Convenções passou por uma grande transformação para receber a mostra. Paredes foram levantas, e 5.000 m2 de área expositiva foram criados.
Entre os critérios estabelecidos, previa-se que artistas com destaque internacional não deveriam ser selecionados. Como os nomes foram indicados há dois anos, alguns ganharam destaque a partir de então.
Caso de Vik Muniz, por motivos óbvios, ou ainda a colombiana María Fernanda Cardoso, que em 99 criou uma instalação para o Museu de Arte Moderna de Nova York, a partir de flores, sua principal fonte de trabalho e também um dos principais produtos de exportação de seu país. Suas coroas de flores são umas das últimas obras no percurso expositivo. Imagem triste e bela, signo da situação-limite que é viver na América Latina.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco

POLÍTICAS DA DIFERENÇA - ARTE IBERO-AMERICANA NO FINAL DO SÉCULO - mostra com cerca de 200 obras de artistas com destaque nos anos 90, de 26 países. Curadoria geral: Kevin Power. Onde: Centro de Convenções de Pernambuco (complexo viário vice-governador Barreto Guimarães, s/nš, Olinda, tel. 0/xx/81/3427-8000). Quando: abertura, hoje, às 20h; de ter. a dom., das 12h às 21h; até 15/8. Quanto: R$ 2. Patrocínio: Generalitat Valenciana e Governo de Pernambuco.


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