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ARTES PLÁSTICAS
Mostra com mais de 200 obras de artistas ibero-americanos é aberta hoje em Olinda
A identidade que nos separa
"Políticas da Diferença" traça perfil das artes na América Latina nos anos 90, segundo dez curadores
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A OLINDA
A imensa bandeira dos Estados
Unidos costurada com pedaços
das bandeiras de Cuba e Porto Rico, obra do artista porto-riquenho Ernesto Pujol, dá a impressão, logo na entrada da mostra
"Políticas da Diferença", que a arte latino-americana é feita como
confronto com a grande potência
do continente.
Acima da bandeira, outra obra,
a palavra resistência em néon, do
artista chileno Gonzalo Dias, reforça o caráter político de quem
entra pelo Centro de Convenções
de Pernambuco, sede da mostra.
Mero engano. É parte da estratégia do curador-geral, Kevin Power, apresentar logo no início da
mostra obras relacionadas às
questões políticas.
Conforme se vai caminhando
pela exposição, os temas sociais
vão diluindo-se para questões que
refletem uma poética de expressão mais refinada. Em se tratando
de América Latina, é difícil criar
uma só identidade plástica.
Não por acaso, é no último segmento que se concentram as
obras de artistas brasileiros. "O
Brasil é o país da mostra com a
mais poética linguagem plástica,
talvez porque no contexto latino-americano o peso da história seja
algo a menos", conta o inglês Power, durante a montagem da exposição no último sábado, em
Olinda.
A idéia da "Políticas da Diferença -Arte Ibero-americana do
Fim do Século" surgiu há quatro
anos durante um congresso de
teoria crítica latino-americana em
Valência, na Espanha. Desde então, um grupo de dez curadores
tem trabalhado sob a coordenação de Power. Alguns foram responsáveis pela seleção de obras de
apenas um país, outros por uma
região, como Power que trabalhou com o Caribe. Pelo Brasil, a
crítica de arte Aracy Amaral foi a
responsável (leia texto abaixo).
Há ainda uma categoria especial, referente a artistas com ascendência ibero-americana que
vivem nos Estados Unidos, selecionados por Victor Zamudio
Taylor. No total, são 87 artistas
com cerca de 200 obras.
"Não é uma exposição de teses;
ela toma o pulso de uma situação,
que é a diversidade da produção
plástica nos anos 90 por artistas
ibero-americanos", conta Power.
A construção da mostra não
obedeceu a um conceito, ele foi
sendo construído nas últimas semanas, a partir da seleção dos curadores. Assim, uma polêmica na
montagem foi se a organização
deveria ser feita por países ou pela
aproximação de linguagens. Venceu a segunda opção.
Não há previsão de que a mostra chegue a São Paulo. Após Pernambuco, ela segue ainda para
Buenos Aires, para o novo museu
do colecionador Eduardo Costantini, Venezuela, México, EUA e
termina a itinerância em 2003, em
Valência, onde tudo começou.
"Para alguns curadores, seria
melhor abrir a mostra num museu de um grande centro brasileiro, mas, de acordo com o conceito
da mostra, acho mais adequado
começar por um lugar alternativo, que sequer é um espaço museológico", conta Power.
Não há em Pernambuco nenhum local com as dimensões
que a mostra requer. Por isso, o
Centro de Convenções passou
por uma grande transformação
para receber a mostra. Paredes foram levantas, e 5.000 m2 de área
expositiva foram criados.
Entre os critérios estabelecidos,
previa-se que artistas com destaque internacional não deveriam
ser selecionados. Como os nomes
foram indicados há dois anos, alguns ganharam destaque a partir
de então.
Caso de Vik Muniz, por motivos
óbvios, ou ainda a colombiana
María Fernanda Cardoso, que em
99 criou uma instalação para o
Museu de Arte Moderna de Nova
York, a partir de flores, sua principal fonte de trabalho e também
um dos principais produtos de
exportação de seu país. Suas coroas de flores são umas das últimas obras no percurso expositivo. Imagem triste e bela, signo da
situação-limite que é viver na
América Latina.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco
POLÍTICAS DA DIFERENÇA - ARTE
IBERO-AMERICANA NO FINAL DO
SÉCULO - mostra com cerca de 200 obras
de artistas com destaque nos anos 90, de
26 países. Curadoria geral: Kevin Power.
Onde: Centro de Convenções de
Pernambuco (complexo viário vice-governador Barreto Guimarães, s/nš,
Olinda, tel. 0/xx/81/3427-8000).
Quando: abertura, hoje, às 20h; de ter. a
dom., das 12h às 21h; até 15/8. Quanto:
R$ 2. Patrocínio: Generalitat Valenciana e
Governo de Pernambuco.
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