|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/música
Tarantino se destaca em pacote de trilhas sonoras de filmes
Chegam às lojas CDs de "Prova de Morte", "Homem-Aranha 3" e "Shrek Terceiro"
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Todo ano é igual: o verão
americano se aproxima, os estúdios de cinema fazem suas apostas e chegam às telas os grandes filmes
da temporada. Ao mesmo tempo chegam às lojas as respectivas trilhas, cercadas de apostas
e expectativas não muito diferentes das dos filmes que as originaram. A safra que está chegando ao Brasil traz trilhas como a do terceiro capítulo da
franquia "Homem-Aranha" e o
também terceiro capítulo de
"Shrek" (veja ao lado).
A trilha de "Shrek", aliás,
mostra ter a mesma vocação
anárquica do filme e foge a
qualquer lugar-comum de uma
trilha -supostamente- infantil. Há clássicos roqueiros, como "Do You Remember Rock
'n" Roll Radio?" (Ramones),
"Immigrant Song" (Led Zeppelin) e "Live and Let Die"
(Wings). Há músicas de gente
nova como Eels, Wolfmother e
Fergie. E há uma divertida versão cantada por Eddie Murphy
e Antonio Banderas de "Thank
You (Falletin Me Be Mice Elf
Again)", da banda de funk Sly &
the Family Stone.
O resultado da coletânea é
uma seleção animada cheia de
idiossincrasias bem-humoradas: todas as músicas funcionam com ironia e humor no
contexto em que surgem. O clima geral é de rock anos 70 -e
isso faz todo o sentido quando
se pensa que o público-alvo do
filme são as pessoas que cresceram naquela geração tanto
quanto as crianças de hoje.
Referências obscuras
Mas talvez a trilha mais interessante seja a de "Prova de
Morte", filme-homenagem de
Quentin Tarantino a filmes B
que estréia até o fim do ano no
Brasil. Tarantino é tão criativo
como criador de trilhas quanto
como cineasta -e tão adepto
das referências obscuras em
ambos os trabalhos.
O resultado tem soul, rock,
surf music, balada instrumental no piano, uma pérola climática de Ennio Morricone, um
cover do francês Serge Gainsbourg e daí por diante. E há, naturalmente, os trechos de diálogos que já se tornaram padrão em todas as suas trilhas.
Não chega a ser tão inspirada
ou coerente como suas já clássicas trilhas de "Pulp Fiction" e
"Jackie Brown", mas segue a
mesma lógica e com o mesmo
tipo de efeito curioso e original.
As outras duas trilhas que fecham o pacote seguem a mesma linha: filmes-de-ação-adaptados-de-quadrinhos-para-adolescentes. "Homem-Aranha 3" e "Tartarugas Ninja" seguem propostas similares também em suas trilhas, mas com
resultados diferentes.
A idéia foi reunir músicas novas de bandas contemporâneas
de rock e assim aumentar o interesse em mais um subproduto dos filmes. Mas, enquanto o
Homem-Aranha cooptou nomes importantes do alternativo americano (Flaming Lips,
Killers, Yeah Yeah Yeahs,
Walkmen, Jet) para cederem
músicas inéditas para sua trilha, as Tartarugas preferiram
investir no emo, eletrônicos genéricos, hip hop, baladinhas no
violão, rock pesado -tiros para
todos os lados para ver se acertam o gosto da audiência.
Resumo da ópera: Shrek é divertido. Tarantino é estranho e
criativo. Homem-Aranha vem
com tanto fluido de teia que
consegue acertar no time que o
apóia. Tartarugas Ninja acham
que estão no gosto dos jovens
de hoje, mas são fraquinhos e
sem graça. Realmente, cada filme tem a trilha que merece.
Texto Anterior: Coletânia: Livro sobre políticas raciais é lançado hoje Próximo Texto: Marina de la Riva aproxima Cuba e MPB Índice
|