São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Crítica/música

Tarantino se destaca em pacote de trilhas sonoras de filmes

Chegam às lojas CDs de "Prova de Morte", "Homem-Aranha 3" e "Shrek Terceiro"

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todo ano é igual: o verão americano se aproxima, os estúdios de cinema fazem suas apostas e chegam às telas os grandes filmes da temporada. Ao mesmo tempo chegam às lojas as respectivas trilhas, cercadas de apostas e expectativas não muito diferentes das dos filmes que as originaram. A safra que está chegando ao Brasil traz trilhas como a do terceiro capítulo da franquia "Homem-Aranha" e o também terceiro capítulo de "Shrek" (veja ao lado).
A trilha de "Shrek", aliás, mostra ter a mesma vocação anárquica do filme e foge a qualquer lugar-comum de uma trilha -supostamente- infantil. Há clássicos roqueiros, como "Do You Remember Rock 'n" Roll Radio?" (Ramones), "Immigrant Song" (Led Zeppelin) e "Live and Let Die" (Wings). Há músicas de gente nova como Eels, Wolfmother e Fergie. E há uma divertida versão cantada por Eddie Murphy e Antonio Banderas de "Thank You (Falletin Me Be Mice Elf Again)", da banda de funk Sly & the Family Stone.
O resultado da coletânea é uma seleção animada cheia de idiossincrasias bem-humoradas: todas as músicas funcionam com ironia e humor no contexto em que surgem. O clima geral é de rock anos 70 -e isso faz todo o sentido quando se pensa que o público-alvo do filme são as pessoas que cresceram naquela geração tanto quanto as crianças de hoje.

Referências obscuras
Mas talvez a trilha mais interessante seja a de "Prova de Morte", filme-homenagem de Quentin Tarantino a filmes B que estréia até o fim do ano no Brasil. Tarantino é tão criativo como criador de trilhas quanto como cineasta -e tão adepto das referências obscuras em ambos os trabalhos.
O resultado tem soul, rock, surf music, balada instrumental no piano, uma pérola climática de Ennio Morricone, um cover do francês Serge Gainsbourg e daí por diante. E há, naturalmente, os trechos de diálogos que já se tornaram padrão em todas as suas trilhas. Não chega a ser tão inspirada ou coerente como suas já clássicas trilhas de "Pulp Fiction" e "Jackie Brown", mas segue a mesma lógica e com o mesmo tipo de efeito curioso e original.
As outras duas trilhas que fecham o pacote seguem a mesma linha: filmes-de-ação-adaptados-de-quadrinhos-para-adolescentes. "Homem-Aranha 3" e "Tartarugas Ninja" seguem propostas similares também em suas trilhas, mas com resultados diferentes.
A idéia foi reunir músicas novas de bandas contemporâneas de rock e assim aumentar o interesse em mais um subproduto dos filmes. Mas, enquanto o Homem-Aranha cooptou nomes importantes do alternativo americano (Flaming Lips, Killers, Yeah Yeah Yeahs, Walkmen, Jet) para cederem músicas inéditas para sua trilha, as Tartarugas preferiram investir no emo, eletrônicos genéricos, hip hop, baladinhas no violão, rock pesado -tiros para todos os lados para ver se acertam o gosto da audiência.
Resumo da ópera: Shrek é divertido. Tarantino é estranho e criativo. Homem-Aranha vem com tanto fluido de teia que consegue acertar no time que o apóia. Tartarugas Ninja acham que estão no gosto dos jovens de hoje, mas são fraquinhos e sem graça. Realmente, cada filme tem a trilha que merece.


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