São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Invasão bárbara

Obras de Banksy, grafiteiro cuja real identidade é desconhecida, são expostas em museu de Bristol, sua cidade natal

Museu da Cidade/Efe
Visitante da exposição vê obra em que o grafiteiro Bansky parodia "As Respigadeiras" (1857), de Jean Millet; uma das trabalhadoras do quadro original sai da tela e fuma na moldura

FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL A BRISTOL

O edifício de estilo barroco erguido em 1905 para abrigar o Museu da Cidade, em Bristol, sudoeste do Reino Unido, vivia às moscas com sua coleção de fósseis, pinturas e cerâmicas. No último mês, após dias fechado, ele reabriu com uma mega-exposição do grafiteiro que, mesmo anônimo, é o mais famoso do mundo: Banksy.
Batizada de "Banksy versus Bristol Museum", a mostra foi negociada em segredo, já que a cidade natal do artista mantém com ele uma relação de amor e ódio. A montagem foi feita também por anônimos. A confusão surtiu efeito: qual deles era o grafiteiro? Ninguém descobriu.
"A gente não sabe direito o que é obra do Banksy e o que não é. Muita coisa não está identificada, e há intervenções espalhadas pelo museu todo", contou o arqueólogo Kieron Cheek, 30, que se candidatou a uma vaga de guia do museu sem saber o que faria. Acabou topando, entre o acervo de pinturas rupestres, com o desenho de um homem e um carrinho de supermercado feito sobre uma pedra. Em 2005, a mesma imagem foi infiltrada por Banksy no Museu Britânico, em Londres. Descoberta a fraude, a instituição incorporou a peça à sua coleção.
Desta vez, um cartaz na porta explica: "Por gentileza, fique atento pois algumas relíquias históricas apresentadas no museu podem ser falsas".
O visitante irá descobrir, entre as pinturas sacras, uma "madonna" segurando Jesus e ouvindo iPod. Entre porcelanas do século 18, encontrará um cachimbo com uma folha de maconha estampada. E, no meio dos roedores empalhados, um camundongo de óculos escuros faz pose.

Fama e anonimato
Informações sobre Banksy são pouco confiáveis. No ano passado, o "The Sun" afirmou ter descoberto sua identidade. Segundo o tabloide, ele seria Robin Cunningham, cerca de 30 anos, oriundo da classe média. Banksy nunca confirmou nem desmentiu a publicação.
O que se sabe é que seus trabalhos estão em muros pelo mundo e também decoram mansões. O casal Angelina Jolie e Brad Pitt já investiu US$ 2 milhões em suas obras.
Sabe-se também que foi em Bristol que, após as primeiras intervenções, nos anos 90, ele foi apontado como vândalo. Agora ele retorna a convite.
"É a primeira exposição que faço em que dinheiro público, de impostos, é usado para pendurar minhas obras -e não para removê-las", diz Banksy no folder da exposição.
Na mostra, os políticos ganham destaque em um quadro que apresenta a Câmara dos Comuns -a câmara baixa do Parlamento britânico- tomada por macacos.
Mas a polícia é o alvo preferido dos trabalhos políticos do artista. Banksy desenha policiais correndo em um gramado e colhendo margaridas. Há também uma escultura de um homem da tropa de choque britânica se equilibrando sobre um cavalinho de carrossel.

Ambiente
"Essa exposição é a minha visão do futuro. Mas é claro que muita gente vai achar que eu deveria é ter comprado um par de óculos", brinca Banksy no texto de apresentação.
Nessa visão, há também militância ambiental: em uma jaula, dois "nuggets" ciscam.
Mas o ataque tem muito mais marketing do que subversão -os grafites perdem muita da surpresa em um museu. As referências insistentes contra o capitalismo pouco combinam com a superprodução.
"Você só pode estar brincando!" diz um boneco em um quadro cuja etiqueta mostra: "10 mil libras". Depois que seus trabalhos atingiram a cifra do milhão, isso pode até ser brincadeira, mas é Banksy quem ri por último, seja quem for.


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