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Invasão bárbara
Obras de Banksy, grafiteiro cuja real identidade é desconhecida, são expostas em museu de Bristol, sua cidade natal
Museu da Cidade/Efe
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Visitante da exposição vê obra em que o grafiteiro Bansky parodia "As Respigadeiras" (1857), de Jean Millet; uma das trabalhadoras do quadro original sai da tela e fuma na moldura
FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL A BRISTOL
O edifício de estilo barroco
erguido em 1905 para abrigar o
Museu da Cidade, em Bristol,
sudoeste do Reino Unido, vivia
às moscas com sua coleção de
fósseis, pinturas e cerâmicas.
No último mês, após dias fechado, ele reabriu com uma mega-exposição do grafiteiro que,
mesmo anônimo, é o mais famoso do mundo: Banksy.
Batizada de "Banksy versus
Bristol Museum", a mostra foi
negociada em segredo, já que a
cidade natal do artista mantém
com ele uma relação de amor e
ódio. A montagem foi feita também por anônimos. A confusão
surtiu efeito: qual deles era o
grafiteiro? Ninguém descobriu.
"A gente não sabe direito o
que é obra do Banksy e o que
não é. Muita coisa não está
identificada, e há intervenções
espalhadas pelo museu todo",
contou o arqueólogo Kieron
Cheek, 30, que se candidatou a
uma vaga de guia do museu sem
saber o que faria. Acabou topando, entre o acervo de pinturas rupestres, com o desenho
de um homem e um carrinho
de supermercado feito sobre
uma pedra. Em 2005, a mesma
imagem foi infiltrada por
Banksy no Museu Britânico,
em Londres. Descoberta a fraude, a instituição incorporou a
peça à sua coleção.
Desta vez, um cartaz na porta
explica: "Por gentileza, fique
atento pois algumas relíquias
históricas apresentadas no museu podem ser falsas".
O visitante irá descobrir, entre as pinturas sacras, uma
"madonna" segurando Jesus e
ouvindo iPod. Entre porcelanas do século 18, encontrará
um cachimbo com uma folha
de maconha estampada. E, no
meio dos roedores empalhados, um camundongo de óculos
escuros faz pose.
Fama e anonimato
Informações sobre Banksy
são pouco confiáveis. No ano
passado, o "The Sun" afirmou
ter descoberto sua identidade.
Segundo o tabloide, ele seria
Robin Cunningham, cerca de
30 anos, oriundo da classe média. Banksy nunca confirmou
nem desmentiu a publicação.
O que se sabe é que seus trabalhos estão em muros pelo
mundo e também decoram
mansões. O casal Angelina Jolie e Brad Pitt já investiu US$ 2
milhões em suas obras.
Sabe-se também que foi em
Bristol que, após as primeiras
intervenções, nos anos 90, ele
foi apontado como vândalo.
Agora ele retorna a convite.
"É a primeira exposição que
faço em que dinheiro público,
de impostos, é usado para pendurar minhas obras -e não para removê-las", diz Banksy no
folder da exposição.
Na mostra, os políticos ganham destaque em um quadro
que apresenta a Câmara dos
Comuns -a câmara baixa do
Parlamento britânico- tomada por macacos.
Mas a polícia é o alvo preferido dos trabalhos políticos do
artista. Banksy desenha policiais correndo em um gramado
e colhendo margaridas. Há
também uma escultura de um
homem da tropa de choque britânica se equilibrando sobre
um cavalinho de carrossel.
Ambiente
"Essa exposição é a minha visão do futuro. Mas é claro que
muita gente vai achar que eu
deveria é ter comprado um par
de óculos", brinca Banksy no
texto de apresentação.
Nessa visão, há também militância ambiental: em uma jaula, dois "nuggets" ciscam.
Mas o ataque tem muito mais
marketing do que subversão
-os grafites perdem muita da
surpresa em um museu. As referências insistentes contra o
capitalismo pouco combinam
com a superprodução.
"Você só pode estar brincando!" diz um boneco em um quadro cuja etiqueta mostra: "10
mil libras". Depois que seus trabalhos atingiram a cifra do milhão, isso pode até ser brincadeira, mas é Banksy quem ri
por último, seja quem for.
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