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livros
CRÍTICA POLICIAL
"Ninguém se Mexe" é policial tarantinesco de Denis Johnson
NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dos vários gêneros de entretenimento, o policial ainda é o que faz mais sucesso. A
crítica mais exigente continua esperando que da quantidade surja a qualidade. Terá que seguir esperando.
Denis Johnson não é um
Edgar Allan Poe, mas é certamente um dos romancistas
mais promissores surgidos
nos últimos tempos.
Há algo de Quentin Tarantino em "Ninguém se Mexe",
romance que brinca com certos estereótipos narrativos.
Publicado em partes na
"Playboy" americana, sua
força não está na trama simples ou no uso adequado das
convenções do gênero. Está
nas personagens sonsas e
atrapalhadas, cada uma quixotesca a seu modo.
O protagonista é Jimmy
Luntz, um charmoso zé-ninguém, que deve dinheiro a
outro zé-ninguém chamado
Juarez. Se os EUA também
têm seu fim de mundo, é lá
que tudo se passa: ao longo
do rio Feather, no nordeste
da Califórnia. Onde não há o
bem, apenas o mal e o pior.
Juarez envia um capanga
para acertar as contas com
Luntz, mas quem sai alvejado na perna é o capanga.
Mais tarde o mesmo sujeito volta para se vingar e uma
nova trapalhada acontece.
As coisas saem de controle o
tempo todo, como se um
deus sádico -o autor?- invertesse a relação presa-predador só para se divertir.
Surgem outros personagens em apuros. A "femme
fatale", Anita Desilvera, foi
passada para trás pelo próprio marido. Seu caminho
cruza o de Luntz. "O azar,
quando vem, vem pra valer."
Quem diz isso é Juarez.
E a única resposta às ondas de azar é o descontrole
emocional. Luntz e Anita, de
erro em erro, seguem improvisando. O medo e o cansaço
vão tornando estranha a realidade. Nesse romance, Denis Johnson mostra como a
parvoíce transforma presas e
predadores em indivíduos
igualmente bizarros.
NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira:
Demônios e Maldições" (Língua Geral)
NINGUÉM SE MEXE
AUTOR Denis Johnson
TRADUÇÃO Alexandre Barbosa de
Souza
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39 (174 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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