São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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livros

CRÍTICA POLICIAL

"Ninguém se Mexe" é policial tarantinesco de Denis Johnson

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dos vários gêneros de entretenimento, o policial ainda é o que faz mais sucesso. A crítica mais exigente continua esperando que da quantidade surja a qualidade. Terá que seguir esperando.
Denis Johnson não é um Edgar Allan Poe, mas é certamente um dos romancistas mais promissores surgidos nos últimos tempos.
Há algo de Quentin Tarantino em "Ninguém se Mexe", romance que brinca com certos estereótipos narrativos.
Publicado em partes na "Playboy" americana, sua força não está na trama simples ou no uso adequado das convenções do gênero. Está nas personagens sonsas e atrapalhadas, cada uma quixotesca a seu modo.
O protagonista é Jimmy Luntz, um charmoso zé-ninguém, que deve dinheiro a outro zé-ninguém chamado Juarez. Se os EUA também têm seu fim de mundo, é lá que tudo se passa: ao longo do rio Feather, no nordeste da Califórnia. Onde não há o bem, apenas o mal e o pior.
Juarez envia um capanga para acertar as contas com Luntz, mas quem sai alvejado na perna é o capanga. Mais tarde o mesmo sujeito volta para se vingar e uma nova trapalhada acontece.
As coisas saem de controle o tempo todo, como se um deus sádico -o autor?- invertesse a relação presa-predador só para se divertir.
Surgem outros personagens em apuros. A "femme fatale", Anita Desilvera, foi passada para trás pelo próprio marido. Seu caminho cruza o de Luntz. "O azar, quando vem, vem pra valer."
Quem diz isso é Juarez. E a única resposta às ondas de azar é o descontrole emocional. Luntz e Anita, de erro em erro, seguem improvisando. O medo e o cansaço vão tornando estranha a realidade. Nesse romance, Denis Johnson mostra como a parvoíce transforma presas e predadores em indivíduos igualmente bizarros.

NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)



NINGUÉM SE MEXE

AUTOR Denis Johnson
TRADUÇÃO Alexandre Barbosa de Souza
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39 (174 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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