São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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OPINIÃO

Livro que deu origem à série bebeu na fonte de J.R.R. Tolkien

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

Comparar "Game of Thrones" com "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien, é coisa de quem não tem o menor olho para sacar como as coisas funcionam na literatura de fantasia.
O paralelo correto para o best-seller de Martin na obra de Tolkien é "O Silmarillion", bem mais obscuro, mas nem por isso menos genial.
Ambas as histórias não passam de competentes atualizações das sagas escandinavas, obcecadas como são por laços de sangue e pelos vários tipos de caquinha que as pessoas (sejam elfos, humanos ou mestiços) fazem por causa deles.
São meditações sobre o entrelaçar de hereditariedade e ambiente que arrasta os personagens para seu destino, por mais que esperneiem. E são profundamente pessimistas, por mais que críticos ceguetas gostem de rotular Tolkien como "ingênuo".
É claro que esses temas existenciais cativam, mas outro elemento importantíssimo presente nas obras de mestre e discípulo é a extremamente bem bolada ilusão de profundidade cultural.
Com referências cuidadosamente plantadas aqui e ali, que o narrador faz questão de não explicar de cara, o leitor se sente capaz de entrever uma estrutura histórica "de verdade" por trás do texto (às vezes porque o autor realmente a criou e talvez a publique um dia, ou só porque é muito hábil em sugeri-la sem criá-la para valer).
A sensação é a de que a trama é o topo de uma cebola temporal e que basta uma descascadinha para alcançar as outras camadas e ter uma visão ainda mais majestosa do "mundo secundário" inventado, como dizia Tolkien, por oposição ao nosso, o mundo "primário".
Martin pode colocar quantas doses de lascívia quiser no seu caldeirão: no essencial, ele e Tolkien são parecidíssimos. Certas predileções vocabulares em "Game of Thrones" não me deixam mentir: "lordling" (lordezinho) e "lesser men" (homens inferiores) vieram direto do dicionário tolkieniano.


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