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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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Autor diz que queria exibir beijo gay e que, se fosse ministro, não liberaria sua novela para antes das 21h

"A TV deve fornecer de tudo, como uma padaria"

DA REPORTAGEM LOCAL

FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO

Manoel Carlos não esconde: gosta de criar polêmica. "É o que faz a novela ultrapassar seu horário de exibição, transbordando para o dia seguinte, com comentários nas ruas", diz o autor de "Mulheres Apaixonadas".
Se dependesse dele, o primeiro beijo lésbico em uma novela iria ao ar em sua trama, entre as adolescentes Clara e Rafaela. E o autor admite que, se fosse ministro, não liberaria sua novela para antes das 21h (há cerca de um mês, "Mulheres", antes liberada para as 20h, foi reclassificada para as 21h). Leia trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
(LAURA MATTOS E CLÁUDIA CROITOR)
 

Folha - Se a história do Brasil atual fosse uma novela, seria das seis, sete ou oito? Com qual título?
Manoel Carlos -
Seria um mix das três, mais "Malhação", das 17h. Isso pela necessidade de atingir a todas as faixas etárias, para que todos tenham um retrato das transformações pelas quais este país está passando e pela esperança de que ele alcance seus ideais.

Folha - Se o sr. fosse ministro da Justiça, "Mulheres Apaixonadas" teria qual classificação?
Manoel Carlos -
A classificação que tem: 21h. Sempre batalhei para que não entrasse antes desse horário, desde "Laços de Família". Não vejo impropriedade para o horário anterior, 20h50, mas um pouco adiante é ainda mais adequado e melhor para a audiência.

Folha - TV deve educar, entreter, informar, tudo isso ou nada disso?
Manoel Carlos -
A TV é um veículo democrático. Ali está uma grade de programas à disposição de quem ligar o aparelho: num casarão ou numa choupana. A TV está obrigada a fornecer de tudo, como uma boa padaria: do pãozinho ao brioche. Informar e entreter com responsabilidade. E bem informar e entreter com bom nível é educar. Acima de tudo, o que a TV não deve fazer é deseducar, informando errado, com parcialidade e distorção.

Folha - Pela primeira vez, um casal de lésbicas ganha simpatia do público. Quando o sr. acredita que virá o beijo gay em horário nobre?
Manoel Carlos -
Gostaria que esse beijo se realizasse na minha novela, com Clara e Rafaela, mas penso que ainda seja prematuro. De qualquer modo, tem sido gratificante verificar a aceitação às meninas, que são personagens positivos, sinceros. Tenho muito cuidado ao enfocar o assunto em cada cena, porque meu interesse único é revelar que existe dignidade e beleza em todas as opções sexuais, e não afrontar as pessoas que pensam diferente de mim.

Folha - Reescreveria algum capítulo que já foi ao ar? Por quê?
Manoel Carlos -
É comum eu assistir e não gostar do que escrevi em determinada cena. Ou porque o texto ficou duro, pouco coloquial, ou porque não fui suficientemente claro ao expressar o que eu queria. Com toda certeza, reescreveria muitas cenas.

Folha - Mulheres desequilibradas: Dóris, Heloísa, Raquel, Marina, Santana. Homens desequilibrados: Marcos. Não é um desequilíbrio?
Manoel Carlos -
O nome "Mulheres Apaixonadas" aponta para a tentativa de criar um painel de mulheres. E, entre as mulheres, pinçar as que apresentam um comportamento atípico, como o do ciúme doentio, o alcoolismo etc. Em meio a isso, destaquei a normalidade de várias personagens. E mostro que o casal formado por Clara e Rafaela é um dos mais equilibrados da novela. Mas já recebi sugestões para fazer "Homens Apaixonados", em que as mulheres seriam coadjuvantes.



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