São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Cinco mostras em SP trazem trabalhos que vão da figuração de Ianelli a obras recentes de Sérgio Sister

Pintura se fortalece pela coincidência

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

A outrora tão falada "morte da pintura" já não assusta mais. São inúmeras as provas de que se tratava de apenas mais um boato acerca dessa vetusta senhora, e uma dessas provas começa a dar as caras hoje, numa semana marcada por aberturas de exposições de pintores e pinturas.
Arcangelo Ianelli é um deles, que traz, através da curadoria de seus filhos Kátia, 53, e Rubens, 50, obras de sua fase figurativa, percorrida, na exposição, de 1944 até os anos 1960.
São 82 trabalhos e 82 anos de Ianelli, que foi transformando sua figuração em algumas das obras mais representativas da abstracionismo. O caminho é seguido cronologicamente, "mas não de maneira rígida", segundo Rubens Ianelli. Começa pelas obras com reflexos da Associação Paulista de Belas Artes, retratando o entorno do pintor: os bairros Aclimação, Paraíso e Vila Mariana, a paisagem de São José dos Campos.
"Ele ainda não explorava a cor com tanta intensidade", aponta Kátia Ianelli. "A partir do segundo bloco da exposição, de 1952 até mais ou menos 1956, já tem uma linguagem mais solta", diz a filha do artista, modelo de uma série de retratos quando criança.
Em seguida, surgem as marinhas, veleiros da represa de Guarapiranga e bambuzais da região do parque Ibirapuera. O gosto de Ianelli pelas marinhas era compartilhado com José Pancetti. "Ele trabalhou bastante com Pancetti na Bahia", diz Kátia.
No fim dos anos 50, Ianelli começa a se desligar sensivelmente da figuração, demonstrando a "vontade do abstracionismo", nas palavras de sua filha. Nos anos 60, trabalha naturezas-mortas, para encerrar definitivamente a fase figurativa.
A seleção das obras envolveu toda a família. "Desde pequenos estamos acostumados com a reunião da família toda para a escolha, e desta vez não foi diferente", diz Kátia. "Foram 18 anos de figuração. É raro um artista executar uma passagem tão lenta."
Integrante do grupo Guanabara nos anos 50, Ianelli dividia os encontros no ateliê de Fukushima, no largo da Guanabara, com, entre outros artistas, Manabu Mabe, que integrava também o grupo Seibi, com artistas como Flávio-Shiró, Kazuo Wakabayashi e Tomie Ohtake. Coincidentemente, essa parte do Seibi ganha espaço na mostra "Abstração como Linguagem - Perfil de um Acervo", na galeria Pinakotheke.
As obras pertenceram ao Museu Manchete, no Rio, entre as décadas de 60 e 80, e hoje fazem parte da coleção do Banco Rural.
Além do núcleo japonês, a coleção tem pinturas de Iberê Camargo, Antônio Bandeira, Yolanda Mohalyi. A abstração aparece também nas esculturas gigantescas de Franz Krajcberg e na série de trabalhos em mármore de Bruno Giorgi. "Além de terem se dedicado ao abstracionismo, todos participaram das Bienais e foram premiados ou homenageados", explica o diretor da Pinakotheke, Max Perlingeiro.
As obras se unem ainda pelos grandes formatos, como os trípticos "Sol e Paisagem Azul" (1966), de Bandeira, e "Entre Caos e Ordem" (1965), de Shiró, e a "Pedra Miliar" (1968), de Bruno Giogi, de quatro toneladas.
Grandes também ficaram as obras de Dudi Maia Rosa, exibidas na galeria Brito Cimino. Hipercolorida, a resina sobre a qual Dudi vem trabalhando há 20 anos está encontrando sua excelência. "Eu tinha um complexo de que as minhas obras não se reproduziam bem nas fotos", diz o artista. "Mas aí comecei a encarar isso como uma característica positiva, partindo do princípio de que elas exigem a presença de quem as vê, não podem dispensar a presença", completa Dudi.
O peculiaríssimo trabalho sobre a resina poliéster registra a cor pelo lado de dentro, inversamente à pintura sobre tela, e ganhou identidade pelo próprio material. "As idéias são comuns, e a matéria é única. Briguei muito com a matéria, mas nunca estiva tão a favor dessa feitura", aponta Dudi.
Na quinta, é a beleza da busca da luminosidade de Sérgio Sister que aparece em suas "Pinturas Recentes", na galeria André Millan, e, no sábado, é Mariannita Luzzati quem transporta suas paisagens silenciosas à mostra "Óleos sobre Tela, Óleos sobre Papel", na galeria Thomas Cohn.


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