São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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CINEMA

Escrito originalmente como roteiro, "Fan-Tan" narra a relação entre um aventureiro e uma pirata nos anos 1920

EUA publicam romance inédito de Marlon Brando

DINITIA SMITH
DO "NEW YORK TIMES"

Pouco mais de um ano após a morte de Marlon Brando, os detritos de sua vida privada continuam a chegar. Em junho, houve um leilão de seus objetos pessoais: itens bizarros que incluíam desde uma mesa de pebolim até uma barata de plástico.
Agora, surge outro estranho estrondo do passado: "Fan-Tan", uma proposta de roteiro transformada em romance que ele escreveu nos anos 70, em parceria com o cineasta Donald Cammell. O roteiro gira em torno de piratas nos mares do Sul. Quase 30 anos depois de realizar um périplo por estúdios e editoras, o texto enfim será publicado no mês que vem, com edição do historiador de cinema David Thomson, que também escreveu o capítulo final e um posfácio para o livro.
A revista "Publishers Weekly" já deu a "Fan-Tan" -nome de um jogo de azar chinês- uma resenha, prevendo que "leitores se lançarão dos mastros com a tripulação de piratas, nessa animada saga de aventura marítima".
Mas o romance oferece igualmente percepções singulares sobre a vida de fantasia de Brando. "É mais que uma curiosidade", disse Sonny Mehta, editor-chefe da Alfred Knopf, que publicará o título, em entrevista por telefone. "Veja o personagem central. Pode-se discernir Brando nele."
O herói é um aventureiro chamado Annie Doultry. Como Brando na época do roteiro, Annie é um sujeito obeso, brincalhão, sensual e interessado em mulheres asiáticas.
O romance se passa nos anos 20, Annie está preso em Hong Kong por contrabando de armas e, ao ser libertado, se apaixona por uma bela pirata, madame Lai Choi San, que o convence a roubar prata de um navio britânico.
O destino do livro ecoa a tempestuosa amizade entre Brando e Cammell. Eles se conheceram em 1957, em Paris, onde Brando estava filmando "Os Deuses Vencidos". Cammell era um jovem, carismático e belo pintor, e os dois simpatizaram um com o outro devido ao fascínio mútuo por experiências sexuais e por cinema de vanguarda europeu.
A relação floresceu até 1974, quando Cammell, então com 40 anos, começou a seduzir China Kong, na época ainda adolescente, filha de uma das namoradas de Brando, Anita Loo. Brando ficou furioso, mas perdoou o amigo depois que este resolveu se casar com a jovem. Em 1978, Cammell sugeriu que colaborassem com uma idéia para um filme. Brando aceitou, mas se recusou a levar o argumento a um estúdio -ele desprezava os estúdios-, e foi assim que Cammell sugeriu que a história virasse um romance.
Cammell começou a escrever, pesquisando detalhes históricos em Hong Kong e na Universidade da Califórnia. Brando fazia anotações nas páginas produzidas pelo parceiro. Subitamente, porém, o ator desistiu e disse que não queria levar o projeto adiante. "Brando sofria de uma mistura de depressão e tédio, que o levava a raramente concluir projetos", escreve Thomson.
O historiador dividiu o manuscrito em capítulos, eliminando repetições. Mas o livro, afirma, é essencialmente trabalho de Cammell e Brando.
"Hollywood é a história de todos os filmes lá produzidos", escreveu Thomson no posfácio. "Mas é mais que isso: também é a história dos grandes sonhos e projetos jamais produzidos. E, por fim, talvez os sonhos não produzidos como "Fan-Tan" sejam mais românticos e mais oníricos do que aqueles que encontraram um porto seguro."


Tradução de Paulo Migliacci.

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