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CINEMA
Escrito originalmente como roteiro, "Fan-Tan" narra a relação entre um aventureiro e uma pirata nos anos 1920
EUA publicam romance inédito de Marlon Brando
DINITIA SMITH
DO "NEW YORK TIMES"
Pouco mais de um ano após a
morte de Marlon Brando, os detritos de sua vida privada continuam a chegar. Em junho, houve
um leilão de seus objetos pessoais:
itens bizarros que incluíam desde
uma mesa de pebolim até uma
barata de plástico.
Agora, surge outro estranho estrondo do passado: "Fan-Tan",
uma proposta de roteiro transformada em romance que ele escreveu nos anos 70, em parceria com
o cineasta Donald Cammell. O roteiro gira em torno de piratas nos
mares do Sul. Quase 30 anos depois de realizar um périplo por estúdios e editoras, o texto enfim será publicado no mês que vem,
com edição do historiador de cinema David Thomson, que também escreveu o capítulo final e
um posfácio para o livro.
A revista "Publishers Weekly"
já deu a "Fan-Tan" -nome de
um jogo de azar chinês- uma resenha, prevendo que "leitores se
lançarão dos mastros com a tripulação de piratas, nessa animada
saga de aventura marítima".
Mas o romance oferece igualmente percepções singulares sobre a vida de fantasia de Brando.
"É mais que uma curiosidade",
disse Sonny Mehta, editor-chefe
da Alfred Knopf, que publicará o
título, em entrevista por telefone.
"Veja o personagem central. Pode-se discernir Brando nele."
O herói é um aventureiro chamado Annie Doultry. Como
Brando na época do roteiro, Annie é um sujeito obeso, brincalhão, sensual e interessado em
mulheres asiáticas.
O romance se passa nos anos 20,
Annie está preso em Hong Kong
por contrabando de armas e, ao
ser libertado, se apaixona por
uma bela pirata, madame Lai
Choi San, que o convence a roubar prata de um navio britânico.
O destino do livro ecoa a tempestuosa amizade entre Brando e
Cammell. Eles se conheceram em
1957, em Paris, onde Brando estava filmando "Os Deuses Vencidos". Cammell era um jovem, carismático e belo pintor, e os dois
simpatizaram um com o outro
devido ao fascínio mútuo por experiências sexuais e por cinema
de vanguarda europeu.
A relação floresceu até 1974,
quando Cammell, então com 40
anos, começou a seduzir China
Kong, na época ainda adolescente, filha de uma das namoradas de
Brando, Anita Loo. Brando ficou
furioso, mas perdoou o amigo depois que este resolveu se casar
com a jovem. Em 1978, Cammell
sugeriu que colaborassem com
uma idéia para um filme. Brando
aceitou, mas se recusou a levar o
argumento a um estúdio -ele
desprezava os estúdios-, e foi assim que Cammell sugeriu que a
história virasse um romance.
Cammell começou a escrever,
pesquisando detalhes históricos
em Hong Kong e na Universidade
da Califórnia. Brando fazia anotações nas páginas produzidas pelo
parceiro. Subitamente, porém, o
ator desistiu e disse que não queria levar o projeto adiante. "Brando sofria de uma mistura de depressão e tédio, que o levava a raramente concluir projetos", escreve Thomson.
O historiador dividiu o manuscrito em capítulos, eliminando repetições. Mas o livro, afirma, é essencialmente trabalho de Cammell e Brando.
"Hollywood é a história de todos os filmes lá produzidos", escreveu Thomson no posfácio.
"Mas é mais que isso: também é a
história dos grandes sonhos e
projetos jamais produzidos. E,
por fim, talvez os sonhos não produzidos como "Fan-Tan" sejam
mais românticos e mais oníricos
do que aqueles que encontraram
um porto seguro."
Tradução de Paulo Migliacci.
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