São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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CRÍTICA

Salada sonora se destaca por suas referências

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma bela salada este "Selo Instituto na Coleta Seletiva". O disco traz alguns dos trabalhos menos conhecidos que o coletivo paulistano realizou nos últimos anos. Dá uma pista de por que eles são o grupo de produtores mais requisitado do país atualmente.
O que diferencia Tejo Damasceno, Daniel Ganjaman e Rica Amabis de outros produtores ou bandas são as referências captadas e colocadas em prática.
Dá para dizer que a música negra é o que move o Instituto, mas não só. O grupo, como 90% do que é produzido no país, bebe em Jorge Benjor, Tim Maia e Stevie Wonder, mas ele vai mais longe.
Nas produções do coletivo, encontram-se elementos da eletrônica, do rock e alguns outros experimentalismos, características que fazem a fama dos melhores lá de fora, como os norte-americanos Neptunes, Kanye West e Missy Elliott.

Linha evolutiva
Este disco não traz nada novo, mas tem o mérito de juntar coisas que vão se encaixando umas às outras, como uma linha evolutiva do Instituto.
Sabotage, o rapper assassinado em São Paulo em janeiro de 2003, inicia e encerra o álbum, em canções feitas em parceria com o Instituto.
Primeiro, com "Cabeça de Nego", um rap-samba que vem em versão remixada. A dupla mostra sangue renovado em "Aracnídeo", em que toques de drum'n'bass misturam-se ao rap comandado pelo vocalista.
Nas duas faixas com Lúcio Maia e Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, nota-se bem a diferença entre o Instituto e os demais produtores por aí. "Gafieira no Avenida" transporta o gélido trip hop inglês para Pernambuco, enquanto "Acordando" é um downtempo cadenciado, em ritmo fluente.
Já "O Sol" é boa surpresa do nem sempre constante Bonsucesso Samba Clube -um, claro, samba com toques eletrônicos aqui e ali.
O grupo de rap Z'Africa Brasil, com o próprio Instituto, aparece na enérgica "Tá na Responsa", em versão ao vivo. A letra tem temática social e tal, mas a levada de metais e teclados diferencia este rap de outros calcados em bases pobres.
O coletivo aparece no formato ao vivo em outra colaboração, desta vez com o rapper Kamau, em "Poesia de Concreto". Aqui, de novo, o rap sobe alguns degraus graças às intervenções do coletivo.
Outra boa surpresa do disco é Flu e De Leve em "No Flu do Mundo". É quase um electro, quase um funkão, mas também é tudo isso, embalado por letra bem-humorada.


Selo Instituto na Coleta Seletiva
   
Artista: vários
Lançamento: independente (o disco vem encartado na revista "Outracoisa")
Quanto: R$ 13,90


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