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Comentário
Banda resistiu ao fim do grunge com integridade
ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando surgiu, em 1990, o
Pearl Jam era achincalhado em
Seattle como "a banda vendida
do grunge". Faltava ao grupo o
que conterrâneos como Nirvana, Mudhoney e Tad tinham de
sobra: a tal da credibilidade "indie" (independente).
Enquanto Kurt Cobain e outros moleques faziam discursos
contra o rock corporativo e vestiam camisetas de bandas obscuras e badaladas como Pixies,
Sonic Youth, Gang of Four e
Flipper, a turma do Pearl Jam
gostava mesmo era do rock de
arena dos anos 70, de The Who,
Neil Young e Led Zeppelin.
O próprio Cobain não cansava de esculhambar o "som comercial" do Pearl Jam, e não foram raros os que consideraram
a banda oportunista pulando
no bonde do grunge.
Como as coisas mudam, não?
Hoje, Cobain está morto, o
grunge acabou, mas o Pearl
Jam está aí, firme e forte: a banda mais popular da América
nos anos 90, superando o Nirvana em venda de discos.
Contrariando as acusações
de oportunismo, o Pearl Jam
venceu à sua maneira, sem fazer concessões e batendo de
frente contra o corporativismo
da indústria musical.
Para começar, a banda se recusou a fazer videoclipes, após
o sucesso de "Jeremy".
Depois, envolveu-se numa
famosa batalha judicial contra
a gigante Ticketmaster, maior
empresa de venda de ingressos
dos Estados Unidos, acusada
pela banda de inflar os preços
de bilhetes. Por três anos, o
Pearl Jam boicotou teatros e
arenas da Ticketmaster, o que
quase arruinou o grupo.
Eddie Vedder e cia. fizeram
shows beneficentes, lideraram
uma campanha anti-Bush, permitiram aos fãs gravar seus
shows, boicotaram festivais patrocinados por grandes corporações e limitaram o preço de
seus ingressos. Mesmo assim,
continuaram a encher estádios.
Se a integridade do Pearl Jam
não pode mais ser questionada,
o mesmo não pode ser dito de
sua herança musical. O hard
rock setentista e grandiloquente da banda influenciou imitadores como Creed, Kings of
Leon, Bush e Nickelback, o que
não deve ser motivo de muito
orgulho para Eddie Vedder.
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