São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cultura pela metade


Corte reduz em 50% os projetos e atividades culturais da prefeitura no 2º semestre


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo cortou a Cultura pela metade. Excluindo-se os gastos com despesas fixas e pagamento de funcionários, o orçamento da Secretaria da Cultura neste segundo semestre caiu 50%.
De julho até dezembro, em vez de poder gastar R$ 32,8 milhões em projetos e atividades culturais, a secretaria só poderá dispor de R$ 16,4 milhões. No primeiro semestre, foram usados R$ 35,2 milhões.
O decreto com os cortes foi publicado na primeira semana de agosto, mas o secretário da Cultura, Marco Aurélio Garcia, ainda não aponta objetivamente que projetos de sua área serão prejudicados.
"Não definimos isso ainda porque estamos renegociando essa questão. Então, só vou poder baixar o facão depois disso", afirmou Garcia.
A razão da diminuição é que a prefeitura está arrecadando cerca de 8% a menos do que o previsto no início do ano. A culpa seria do baixo crescimento da economia brasileira, que diminuiu a previsão da receita municipal de R$ 10,3 bilhões para R$ 9,4 bilhões.

Cortes desiguais
Reduções de orçamento estão ocorrendo em todas a secretarias, mas de forma desigual. Em média, cada pasta deveria sofrer um corte de cerca de 8%. A Cultura está sendo obrigada a fazer um sacrifício maior.
Levando-se em conta o orçamento geral da Secretaria da Cultura para todo o ano de 2002 (R$ 123 milhões, incluindo-se aí os R$ 55 milhões destinados à folha de pagamento), o corte é de 13,4%.
Levantamento feito pela assessoria econômica do vereador Roberto Tripoli (PSDB) indica que a redução na Secretaria de Comunicação e Informação Social, responsável pela publicidade da prefeitura, é bem menor: 4,9%.
A Secretaria de Finanças é a responsável por estabelecer as porcentagens de redução para cada pasta. Mas o secretário de Finanças, João Sayad, considera o assunto esgotado e não quis conceder entrevista.
Sua assessoria de imprensa informa apenas que se buscou fazer um corte o mais linear possível, e que variações foram determinadas de acordo com as demandas de cada secretaria.

Pontes de safena
O secretário da Cultura disse que espera conseguir oficialmente mais verba para sua pasta ainda nesta semana. "Creio que teremos pelo menos mais R$ 3 milhões", disse Garcia.
Seja como for, o secretário já adiantou que não vai cortar os projetos pela metade, e sim escolher algumas prioridades. "Sou contra cortes lineares, porque você impõe restrições a determinados setores que seriam prioritários", disse, sem especificar o que considera prioritário.
Apesar de sua pasta ter uma redução maior do que a média geral, Garcia defendeu o corte menor destinado à Secretaria de Comunicação Social.
"Houve um aumento do gasto de comunicação? Houve. Mas a chave da campanha da dengue, por exemplo, era comunicação. Peças de teatro ficaram lotadas graças à manutenção do dinheiro nessa área. Várias secretarias estarão satisfeitas que não tenha sido feito corte aí", afirmou.
Garcia conta ainda com algumas possibilidades de conseguir dinheiro extra em outro lugar, o que chama de "pontes de safena": "No caso do Teatro Municipal, por exemplo, recebemos nesses dias uma liberação para captar pouco mais de R$ 5 milhões via lei Rouanet. Começando essa captação, e já estou empenhado nisso, tiro o dinheiro dessa área".



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Política Cultural: Dinheiro das bibliotecas é remanejado há oito anos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.