São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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A nova casa do cinema


Cinemateca Brasileira abre moderno centro de pesquisas de toda a filmografia nacional


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana em que se completam 25 anos da morte do seu grande idealizador, Paulo Emilio Salles Gomes, a Cinemateca Brasileira dá um dos passos mais importantes de sua história.
A instituição inaugura hoje, dentro de sua sede, em São Paulo, o principal centro de pesquisas sobre cinema do país.
Centro de Documentação e Pesquisa (CDP) é o nome de batismo do espaço, que abriga a Biblioteca Paulo Emilio Salles Gomes, o laboratório fotográfico, um conjunto de arquivos especiais e o setor de pesquisas da instituição.
Desse conjunto fazem parte 9.000 livros, 2.300 roteiros de cinema, 8.500 cartazes de filmes e coleções completas das revistas mais importantes de cinema do país, entre outros documentos.
Todo esse acervo, a maior parte dele indisponível até então, passa a contar com um moderno galpão dentro do complexo de prédios da instituição, o antigo Matadouro Municipal paulistano.
A empreitada é resultado do trabalho da Sociedade Amigos da Cinemateca, presidida desde abril de 1997 por Cosette Alves. Sob comando dela, a SAC já havia captado recursos para a abertura, em 2001, do depósito de matrizes, conjunto de salas climatizadas para acondicionar os filmes administrados pela instituição.
Três dos patrocinadores desse primeiro projeto, Bradesco, Petrobras e BNDES, bancaram também o CDP, orçado em R$ 3 milhões. O Tesouro Nacional, aliado a colaboradores menores, complementou o valor.
"A SAC tem como finalidade captar recursos, organizar eventos e, sobretudo, revitalizar o nome da Cinemateca. Quando íamos captar recursos, sentíamos que, apesar de muito importante, a Cinemateca era uma instituição pouco conhecida. Não era fácil explicar a importância da memória", lembra Cosette.
Segundo ela, tanto o projeto do depósito de matrizes quanto o do CDP já existiam. Mas faltavam os recursos. "Minha vida empresarial me foi muito útil, porque tinha credibilidade e consegui convencer os patrocinadores da importância deste trabalho."
Não são poucas, de fato, as pérolas sob o teto do novo galpão -projeto arquitetônico iniciado por Lúcio Gomes Machado e concluído por Nélson Dupré.
Um dos conjuntos mais importantes, que sai dos caixotes pela primeira vez para acesso público, é a biblioteca pessoal de Paulo Emilio Salles Gomes (1916-77), tido como o principal crítico de cinema da história do país.
Os livros do intelectual sobre cinema já estavam na Cinemateca. São a base da chamada Biblioteca Paulo Emilio. Todo o resto, uma coleção de cerca de 5.000 volumes de literatura, sociologia, filosofia, entre outros, agora está aberto a consultas no mezanino do CDP.
"Esse conjunto ajuda a entender toda a formação intelectual de Paulo Emilio", opina a cineasta Olga Futemma, coordenadora do Centro e ex-aluna do crítico, na Universidade de São Paulo.
O acervo do criador da revista "Clima" -junto com críticos como Antonio Candido, Décio de Almeida Prado e Lourival Gomes Machado- divide o mezanino do galpão com outros arquivos especiais, como parte da coleção de Glauber Rocha (1939-1981), que inclui o roteiro de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" com anotações do cineasta.
Documentos como esses terão acesso controlado, mas a maior parte do arquivo estará aberta ao público todos os dias.
"Os horários de consulta eram muito restritos. Agora estamos tendo um upgrade. O centro vai funcionar regularmente de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h", salienta Carlos Wendel de Magalhães, recém-empossado diretor-executivo da Cinemateca.
A instituição também está intensificando a digitalização de informações sobre a filmografia nacional, por meio do projeto Censo Cinematográfico Brasileiro (patrocinado pela BR Distribuidora).
Uma parte do levantamento, que pretende catalogar todos os filmes já feitos no país, está disponível na internet, no endereço www.cinemateca.com.br. Nos computadores instalados no CDP, porém, é possível consultar os dados mais atualizados.
"Agora temos de pensar na manutenção do espaço, pois ele cresceu muito", diz Cosette. "E também na ampliação. Temos o projeto de transformar a Cinemateca em um grande centro cultural."



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