São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Bressane divide público em Veneza

"A Erva do Rato", baseado em dois contos de Machado de Assis, faz parte do público abandonar a sala

IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Exibido fora de competição em Veneza, o novo filme de Julio Bressane ganhou a simpatia de parte da platéia, que riu muito e aplaudiu bastante ao final. A outra parte, porém, levantou-se e abandonou "A Erva do Rato" pela metade.
Nada disso chega a ser surpreendente em se tratando de Julio Bressane, um autor que não faz concessões ao entretenimento comercial.
Planos longos, declamações literárias, cenas inexplicáveis, cores fortes. Fale tudo de Bressane, menos que ele faz teatro filmado, como fez um jornalista italiano ontem, na coletiva para a imprensa.
"O teatro que me interessa é a umbanda; isso é que é teatro no Brasil. Mas não esse lugar-comum de você confundir um plano longo com uma tomada teatral. Isso é um equívoco. O cinema começou com planos longos", afirmou.
Bressane também explicou o processo de criação do filme. "A Erva do Rato" é baseado em dois contos de Machado de Assis, autor que Bressane já havia visitado em "Brás Cubas" (1985). Os contos são "A Causa Secreta" e "Um Esqueleto".
"Na verdade, é inspirado em duas linhas de cada um desses contos. Peguei a relação do homem com o rato, juntei com o convívio dele com seu esqueleto e criei essa nova história."
No filme, de 80 minutos, Selton Mello e Alessandra Negrini formam um casal sem nome. Ele tira fotos dela nua. Até que um rato aparece para atrapalhar esse delicado equilíbrio. "Tive certo cuidado ao sugerir de alguma forma o estilo de Machado em imagens, o que é impossível", declarou o complexo diretor.

"Tudo é tara"
Questionado por outro italiano se ele se considera um cineasta erótico, Bressane disse que não, apesar de afirmar que "toda arte já é uma patologia, tudo é uma tara. Temos apenas que organizá-la".
Alessandra Negrini falou de como organizar tudo isso e transformar em uma interpretação: "É um processo bastante prazeroso. A primeira coisa que faço é disponibilizar os ouvidos ao que Julio tem a dizer. Ele trabalha muito com iconografia, traz muitas referência para a gente ver. Fico bem quietinha, e o que está em mim vem naturalmente. É como viajar para outro planeta".
Alô, planeta Bressane chamando.

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