São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011 |
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CRÍTICA CONTOS Dalton Trevisan mostra que continua afiado e em forma "O Anão e a Ninfeta" reúne contos com novidades de tema e de estilo FLÁVIO MOURA ESPECIAL PARA A FOLHA Um indício da envergadura de um escritor é a capacidade de criar um universo particular. Dos brasileiros vivos, pode-se dizer isso de poucos. Dalton Trevisan é um deles. Aos 86 anos, ele tem lugar garantido no panteão da literatura brasileira e já é objeto de livros didáticos. Ocupa assento próximo ao de Rubem Fonseca, outro mestre da narrativa curta e da sordidez. A questão é saber se continua afiado ou se, a exemplo do que ocorre com Fonseca, vem se transformando em repetição de si mesmo. "O Anão e a Ninfeta" faz pensar na primeira alternativa. Traz uma coleção de histórias curtas que não só "trazem as marcas registradas", como se poderia dizer de forma apressada, mas sugerem novidades de tema e estilo. No conto que abre a coletânea, um anão mulherengo termina morto por uma prostituta. No modo como se constrói o personagem, o foco não é a deformação, mas a banalidade de seus dilemas. "Único assunto as mocinhas bonitas, família ou programa, de todas cativo. A elas consagra, dedica e oferece a minúscula vida." Como notou o crítico Alcir Pécora, seus tipos têm se tornado menos freaks e mais ordinários. As perversões continuam em primeiro plano, mas são cada vez mais vividas por gente comum. Na história que fecha o volume, a tensão se dá entre marido e amante em torno do dilema burguês de abandono do casamento em favor do sexo. "Ela pede tempo e distância para pensar. Insatisfeita, sente-se em desvantagem. Ele, no bem-bom, dupla família, uma completa a outra." Estão presentes ainda os contos mínimos de praxe. Mas neles não aparece apenas o virtuose da frase curta, e sim um narrador mais venenoso do que nunca. Um exemplo é o excelente "Programa". Em forma de diálogo e com exatas 34 palavras, descreve uma cena deprimente de sexo oral de forma indireta e alusiva, mas cristalina ao leitor atento. Outros textos podem ser lidos como poemas em prosa, sonoros e mordazes sem resvalar para a caricatura. Miguel Sanches Neto sugeriu que os minicontos são produto da artrite. O comentário é uma provocação, mas serve de emblema para definir um autor que precisa de cada vez menos palavras para se mostrar em forma. FLÁVIO MOURA é jornalista e doutor em sociologia pela USP. O ANÃO E A NINFETA AUTOR Dalton Trevisan EDITORA Record QUANTO R$ 34,90 (160 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica contos/novela: Contos de Rubem Fonseca assustam pela banalidade Próximo Texto: Crítica política: Livro compila opiniões de José Nêumanne Pinto sobre Lula Índice | Comunicar Erros |
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