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VÍDEO
Exposição que abre hoje no MAM, em São Paulo, traz quatro instalações do videasta norte-americano
Gary Hill torna humana a tecnologia
DANIELA ROCHA
da Reportagem Local
Gary Hill, o premiado videasta
norte-americano que tem a partir
de hoje quatro instalações expostas no Museu de Arte Moderna
(MAM) de São Paulo, se revela um
sujeito simples. Suas obras, no entanto, têm grande sofisticação e só
são realizadas graças a recursos da
alta tecnologia de imagens.
"Mas tecnologia para mim não é
um sistema acima de qualquer suspeita. Conheço o que preciso para
realizar meu trabalho, com enfoque sempre em um ponto essencial, que é o conteúdo. É como Bob
Dylan, que disse em uma entrevista recente que não gosta do processo de gravação, de passar o som
pela tecnologia. Tudo o que ele
quer é cantar", disse ele, durante
um intervalo na "afinação" das
imagens em uma das instalações
no MAM.
"Uso o vídeo como forma de
criar uma presença, o que torna
meu trabalho completamente diferente da fotografia, por exemplo.
A foto está lá, feita, com o momento congelado naquela imagem. O
vídeo absorve a presença, registra
a vida ali, existindo, como se fosse
real, vivo. Mas também não sou
obcecado com a perfeição da apresentação e seu impacto como espetáculo. Prefiro ser neutro e deixar
que a obra fale por si."
No MAM, a primeira obra que o
espectador virá é "Clover", idealizada por Hill em 1994, que traz
quatro tubos de imagem (que é a
tela da TV, sem o invólucro de
plástico). Cada uma das telas mostra uma pessoa de trás, focando
apenas sua cabeça e seus ombros,
caminhando em uma floresta. Não
se vê o horizonte ou o caminho.
"É uma metáfora que faço ao andar rumo ao nada, ao vácuo."
Ao lado, "Tall Ships" (exibida
pela primeira vez na Documenta
de Kassel, em 1992) é uma instalação que instiga a participação do
público. Uma série de projetores
são colocados ao longo de um corredor. Cada um projeta uma imagem de uma pessoa.
O espectador entra na sala e vê
pontos de luz nas paredes. Como o
chão tem sensores conectados aos
projetores, quando o espectador se
aproxima da imagem, a pessoa
projetada começa a caminhar na
direção do espectador. Quando o
espectador se afasta, a imagem da
pessoa projetada também vira-se e
caminha para um ponto mais distante.
"A interatividade não é o mais
importante nesta instalação.
Aquela é a forma mais simples de
interação que existe e que nem
sempre nós fazemos com quem está ao nosso lado", disse.
Hill tomou o cuidado de montar
as projeções de forma a não torná-las previsíveis.
Diferentes experiências podem
acontecer na sala, dependendo do
número de pessoas que entra nela
ao mesmo tempo. Se a sala está lotada, até a sombra dos espectadores nas paredes tornam o local
mais íntimo. "Não é uma coisa
mecânica. Nesse sentido, dependendo do momento a instalação
pode ser decodificada de formas
diferentes pelo público."
A sala seguinte traz uma instalação dividida em duas partes. De
um lado da sala, há projeção de
duas imagens de um homem indígena norte-americano de corpo
inteiro. Do outro lado da sala, há
dois monitores com imagens apenas do rosto do homem. A particularidade é que em ambos os casos,
uma das imagens mostra o homem
olhando o espectador e a outra
mostra o homem olhando para a
sua projeção.
"Mas não é como num jogo de
espelhos porque eles mostram o
reverso, e o vídeo não", afirmou.
A última instalação, "Inasmuch
As It Is Always Already Taking Place", é uma obra do Museu de Arte
Moderna (MoMA) de Nova York,
que traz 16 monitores de vários tamanhos que mostram fragmentos
de um corpo. "É como uma obra
de natureza morta, mas que na
verdade tudo, cada parte, mostra
sinais de vida."
Exposição: O Lugar do Outro/Where the
Other Takes Place
Artista: Gary Hill
Onde: Museu de Arte Moderna (parque
Ibirapuera, portão 3, tel. 011/549-9688)
Quando: abertura hoje; ter, qua e sex, das
12h às 18h, qui, das 12h às 22h, sáb, dom e
feriados, das 10h às 18h
Quanto: R$ 5; grátis às terças-feiras
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