São Paulo, sexta, 3 de outubro de 1997.




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VÍDEO
Exposição que abre hoje no MAM, em São Paulo, traz quatro instalações do videasta norte-americano
Gary Hill torna humana a tecnologia

DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

Gary Hill, o premiado videasta norte-americano que tem a partir de hoje quatro instalações expostas no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, se revela um sujeito simples. Suas obras, no entanto, têm grande sofisticação e só são realizadas graças a recursos da alta tecnologia de imagens.
"Mas tecnologia para mim não é um sistema acima de qualquer suspeita. Conheço o que preciso para realizar meu trabalho, com enfoque sempre em um ponto essencial, que é o conteúdo. É como Bob Dylan, que disse em uma entrevista recente que não gosta do processo de gravação, de passar o som pela tecnologia. Tudo o que ele quer é cantar", disse ele, durante um intervalo na "afinação" das imagens em uma das instalações no MAM.
"Uso o vídeo como forma de criar uma presença, o que torna meu trabalho completamente diferente da fotografia, por exemplo. A foto está lá, feita, com o momento congelado naquela imagem. O vídeo absorve a presença, registra a vida ali, existindo, como se fosse real, vivo. Mas também não sou obcecado com a perfeição da apresentação e seu impacto como espetáculo. Prefiro ser neutro e deixar que a obra fale por si."
No MAM, a primeira obra que o espectador virá é "Clover", idealizada por Hill em 1994, que traz quatro tubos de imagem (que é a tela da TV, sem o invólucro de plástico). Cada uma das telas mostra uma pessoa de trás, focando apenas sua cabeça e seus ombros, caminhando em uma floresta. Não se vê o horizonte ou o caminho. "É uma metáfora que faço ao andar rumo ao nada, ao vácuo."
Ao lado, "Tall Ships" (exibida pela primeira vez na Documenta de Kassel, em 1992) é uma instalação que instiga a participação do público. Uma série de projetores são colocados ao longo de um corredor. Cada um projeta uma imagem de uma pessoa.
O espectador entra na sala e vê pontos de luz nas paredes. Como o chão tem sensores conectados aos projetores, quando o espectador se aproxima da imagem, a pessoa projetada começa a caminhar na direção do espectador. Quando o espectador se afasta, a imagem da pessoa projetada também vira-se e caminha para um ponto mais distante.
"A interatividade não é o mais importante nesta instalação. Aquela é a forma mais simples de interação que existe e que nem sempre nós fazemos com quem está ao nosso lado", disse.
Hill tomou o cuidado de montar as projeções de forma a não torná-las previsíveis.
Diferentes experiências podem acontecer na sala, dependendo do número de pessoas que entra nela ao mesmo tempo. Se a sala está lotada, até a sombra dos espectadores nas paredes tornam o local mais íntimo. "Não é uma coisa mecânica. Nesse sentido, dependendo do momento a instalação pode ser decodificada de formas diferentes pelo público."
A sala seguinte traz uma instalação dividida em duas partes. De um lado da sala, há projeção de duas imagens de um homem indígena norte-americano de corpo inteiro. Do outro lado da sala, há dois monitores com imagens apenas do rosto do homem. A particularidade é que em ambos os casos, uma das imagens mostra o homem olhando o espectador e a outra mostra o homem olhando para a sua projeção.
"Mas não é como num jogo de espelhos porque eles mostram o reverso, e o vídeo não", afirmou.
A última instalação, "Inasmuch As It Is Always Already Taking Place", é uma obra do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, que traz 16 monitores de vários tamanhos que mostram fragmentos de um corpo. "É como uma obra de natureza morta, mas que na verdade tudo, cada parte, mostra sinais de vida."

Exposição: O Lugar do Outro/Where the Other Takes Place Artista: Gary Hill Onde: Museu de Arte Moderna (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 011/549-9688) Quando: abertura hoje; ter, qua e sex, das 12h às 18h, qui, das 12h às 22h, sáb, dom e feriados, das 10h às 18h Quanto: R$ 5; grátis às terças-feiras


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