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"Se alguém suspeita, que acuse formalmente", disse Júlio Neves
Presidente do Masp rebate
dúvida sobre acervo do museu
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local
O presidente do Masp, o arquiteto Júlio Neves, disse não
permitir o acesso ao acervo do
museu para verificar se há obras
de arte que tenham sido roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra.
A Folha publicou ontem re
portagem em que o especialista
Hector Feliciano e o escritor
Fernando Morais aventam a hipótese de que o Masp tenha
obras pilhadas.
"Eu não suspeito de nada. Se
alguém suspeita e quer fazer al
guma acusação, que faça for
malmente. Aí nós vamos tomar
as providências", afirmou Neves à Folha.
Conhecedores da história do
Masp, como Gilberto Chateau
briand, filho do fundador do
museu, Assis Chateaubriand,
acreditam que o acervo do Masp
possa abrigar quadros pilhados.
"Acredito piamente que al
guns quadros da coleção dos im
pressionistas tenham pertenci
do a famílias saqueadas pelos
nazistas", disse Chateaubriand.
Essa suspeita se baseia em al
guns pontos. Primeiro: docu
mentos do serviço secreto ame
ricano feitos no final da guerra e
publicados pela Folha revelam
que o tráfico de obras pilhadas
tinha conexões no Brasil.
Além disso, há suspeitas de
que Georges Wildenstein, o
marchand que vendia as princi
pais obras para o Masp, fez ne
gócios com os nazistas.
Esta semana, herdeiros de Al
phonse Kann (importante mar
chand francês) estão entrando
com um processo na Justiça
norte-americana contra a famí
lia Wildenstein, acusada de estar
com manuscritos medievais que
pertenciam a Kann e desapare
ceram após sua coleção ter sido
confiscada pelos nazistas.
O Masp não é o único museu
de grande porte a ter parte do
acervo colocada sob suspeita:
em 1996, obras roubadas pelos
nazistas foram achadas em mu
seus espanhóis, suíços, alemães,
americanos e franceses (entre
eles o Louvre, o Centro Georges
Pompidou e o D'Orsay).
"Tenho mais o que fazer do
que responder sobre suspei
tas", disse Neves, que aceita que
o acervo do museu seja vistoria
do por especialistas, desde que
seja feita "acusação formal".
Como, geralmente, os alemães
faziam inventários das coleções
confiscadas, catalogavam os
quadros e faziam inscrições que
identificavam as peças, não seria
necessária uma expertise. Basta
ria saber quais são os códigos
para cada família.
Neves, entretanto, se recusou
a deixar a reportagem da Folha
ter acesso às obras. "Eu não vou
abrir nada, meu filho. Você põe
um advogado, põe quem quiser,
aí nós fazemos", disse.
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