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Crítica
"Blow Up" exibe a grandiosidade de Antonioni
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Blow Up" (TCM, 1h40) não
merecia o título brasileiro "Depois Daquele Beijo". Os motivos são inúmeros, mas o principal é que dá a entender que antes de David Hemmings fotografar Vanessa Redgrave com
um homem, num parque de
Londres, nada de significativo
aconteceu.
Quer dizer, nada aconteceu
mesmo. Entretanto, tudo
aconteceu: o fotógrafo disfarçado de operário (ah, como pode ser falso o autêntico), a sessão de fotos de moda (o tédio, a
obrigação, a insignificância), o
quase estupro de que é vítima
por duas fanzocas.
É depois disso que ele sai à
deriva. Em busca de quê? De
nada. Ele sabe que só o acaso
poderá salvá-lo da selvageria a
que o sucesso o condena.
É então que acontecerá
"aquele beijo", tudo o que se
prova e tudo o que, a despeito
disso, nunca se saberá se existiu ou não, mas que -junto da
beleza talvez insuperável dos
enquadramentos- faz do filme
"Blow Up" um grande, imenso
trabalho de Michelangelo Antonioni.
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